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Cronicas-->A SOLIDÃO E OS LIVROS -- 25/07/2001 - 19:05 (Luiz Carlos Amorim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Outro dia, no início do inverno, eu sugeria aos amigos de um nosso grupo de discussão, na Internet, que não deixassem nada guardado em casa, sem uso, que doassem roupas, calçados, brinquedos, tudo o que pudesse ser aproveitado, para pessoas menos afortunadas que nós. Sempre há quem aceite e faça bom proveito do que podemos oferecer.
E Araci, amiga muito querida e dedicada às causas sociais e culturais, foi mais longe: ela conclamou-nos a doar livros, também. E eu lhe disse, então, que já fazia isso. Que nas minhas tantas mudanças, sempre fazia um expurgo nas minhas centenas de livros e levava um tanto para uma ou outra escola, para um jardim de infància, para alguma biblioteca, para orfanatos, para alguma campanha de distribuição. Foi então que ela dividiu uma idéia que achei maravilhosa e passei a adotar: Araci me disse que levava livros para asilos. Que as pessoas que lá estavam adoravam livros, que a maioria deles os liam com um prazer que dava gosto de ver.
Fiz isso e comprovei a verdade que Araci já conhecia. Nossos velhos, às vezes esquecidos pela família ou até sem ela, quase sempre gostam de ler e as bibliotecas dos asilos, quando existem, não são renovadas, existindo lá apenas aqueles títulos que eles já leram e releram e tornaram a ler.
Então cabe a nós prover a biblioteca de quantos asilos conhecemos ou procurarmos vir a conhecer, resgatando livros que já lemos e levando-os para fazer parte do acervo que já existe ou começando um acervo onde não há. Porque não é só o fato de haver livros para que nossos velhos possam ler. O fato de levarmos um ou quantos volumes pudermos levar significa que nos preocupamos com eles, constitui contato com pessoas de fora, significa alguém para ver, para conversar, para trocar experiências, emoções, vivência.
E é disso que eles precisam, que nós todos precisamos. Conviver, poder dizer o que pensamos, o que sentimos, ouvir o que o outro tem a dizer.
E essa troca é ainda maior, quando há aqueles que não podem mais ler, por um ou outro motivo, e precisam que alguém leia para eles. Sempre achamos que não temos tempo para ir a um asilo fazer uma visita, assumir o compromisso de ler um trecho de um livro uma vez por semana, apenas. Mas se quisermos, se verificarmos nossa agenda com bastante cuidado e atenção, veremos que temos, sim, uma horinha que seja, na semana, para ir a um asilo visitar nossos amigos que já viveram tanto e deram tanto de si para nós todos chegarmos aonde estamos. Uma horinha para levar um livro ou dois de presente, uma horinha para ouvir histórias de vida, para contar histórias, receber sorrisos de presente e sorrir, simplesmente, de volta. Uma horinha para caminhar com eles, segurar-lhes as mãos, olhar dentro dos seus olhos e dizer-lhes que não estão sozinhos.
Deixá-los que nos ensinem um pouco do que aprenderam ao longo de suas vidas, deixa-los dividir conosco a sabedoria construída com trabalho e experiência. Deixa-los falar do que gostam, pois poderemos saber que livros levar-lhes da próxima vez.
Porque nosso corpo envelhece, mas nosso espírito pode não ter idade, se não formos abandonados à margem da solidão.
Não nos esqueçamos de fazer um expurgo, de vez em quando, nos nossos livros, para lembrar que nossos velhos estão lá, a nossa espera, à espera de que levemos alguns livros e outro tanto de humanidades. Não deixemos livros esquecidos na solidão dos armários de nossas casas, nem idosos na solidão da ausência. Nós precisamos deles para aprendermos juntos como enfrentar nossa velhice amanhã.



E-mail do autor: lzamorim@terra.com.br
Http://planeta.terra.com.br/arte/prosapoesiaecia
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