Conheço o Brasil há quatro décadas. São, pois, 460 anos de história com os quais não convivi, a não ser por livros e por ouvir dizer. É verdade que já ouvi quem morre de amores por este país, como também já ouvi quem o odeia. Já tive contato com quem morou no exterior, como também com quem veio de lá para cá e passou-me sua impressão. De impressão em impressão, Ã s vezes eu me questiono sobre o que disse Pero Vaz de Caminha, em sua famosa carta ao Rei de Portugal e sobre o que ele possivelmente diria hoje, se houvera acompanhado o Brasil em toda a sua trajetória histórica. Impossível resposta absoluta! Mas o possível Pero Vaz de Caminha que existe em mim, como descendente de português que também sou, e como observador deste país, posso dizer que é decepcionante em muitos aspectos analisar o Brasil. Por que tal decepção?
É certo que não penso aqui no Brasil geografia, no Brasil natureza. Argumentar sobre a sua beleza e riqueza é dispensável. É país para turista nenhum achar defeito.
Minha decepção atém-se ao incomensurável potencial deste país desperdiçado pelas mãos de incompetentes.
No início, chegaram os portugueses. Gestavam em si só ganància... colonização de exploração... Daqueles tempos idos para estes tempos vindos, a exploração nos persegue. Levaram nosso ouro; levaram nosso "pau brasil". Da terra de Camões, quem dera tivessem-no trazido para cá... Antes trouxeram escravos, ladrões, desterrados, assassinos e tanto quanto poderia contribuir para o que somos hoje. Seria preciso citar trechos históricos para isto comprovarmos? Não estou dizendo que somente estes contribuintes são responsáveis pelo que somos hoje. Olhe-se o exemplo da Austrália...
Deste país que assim iniciou, seria possível esperar outro destino? Certo que sim! Mas a história nos prova que o que temos hoje, em muito, é bem reflexo de um passado mal construído. De lá para cá, o continuísmo é a realidade. É suficiente que citemos os escàndalos na Política, os rombos na Previdência Social, os envolvimentos da Polícia na máfia do narcotráfico e em sequestros, o domínio das Multinacionais em nossa economia, o salário mínimo miserável que pode contribuir para explicar a onda de criminalidade no nosso país. Como se não bastasse, contamos com uma mídia conivente com a ideologia dominante, um capitalismo "capetalista" que, Ã s claras, dilacera a dignidade humana. Em face desta economia de poucos e exploração de milhões, estão aqui o desemprego galopante e o analfabetismo constatados pelas estatísticas. Milhares e milhares são encontrados nas ruas a mendigar. Outros milhares perambulam pelos lixões em busca de alimento.
Que outro Brasil é mais patente? Se existe outro, como se explica que o Governo gaste milhões tentando erradicar as casas de taipas do nosso interior ("tentando", porque é bem difícil não encontrar desvio de verbas dos cofres públicos)? Como se explica a existência das entidades filantrópicas, lutando por amparo aos brasileiros desprovidos? E a luta do programa nacional "COMUNIDADE SOLIDÁRIA", com o qual o Governo Federal reconhece um Brasil carente?
Como é possível suportar tanta decepção???!!!
Ah! Brasil, 500 anos! Que estivemos comemorando? Será que não apenas uma data? Quem sabe, possamos comemorar algumas vitórias que não deixam de existir. Não as do Futebol... Consolo de tolos! Mas vitórias que nos apontam um caminho, íngreme por certo, onde o sangue de muitos ainda correrá, mas que nos levará, sem dúvida, a um futuro melhor, no qual, possamos comemorar não apenas datas, mas eventos que representem a dignificação de seres humanos.
Willians Moreira
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