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Artigos-->Uma Conversão, Sangue Rosati, Fé de Khory e Kinema -- 01/01/2004 - 16:30 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Curiosa a possibilidade da conversão. Há tempos polemizei com um escritor usineiro a respeito da guerra do Afeganistão (por volta de fins de 2001, início de 2002). Tudo começou quando o colega contestou um artigo de “paz e amor, bichos” de Odair Pessoti. Nem sei que é Odair, nem gostava de seus textos, mas o fato é que o colega e eu tivemos uma longa discussão, em que o meu oponente basicamente argumentava que invadir o Afeganisertão seria importante para gerar lá uma democracia, acabando com regime ditatorial do Talibã. Seria uma questão de segurança internacional, etc, etc. Eu o atacava com bom humor, como no texto You Drop a Bomb on Me, deixando-o desconcertado. Porém, apesar de tudo, ele reuniu todos os e-mails num artigo chamado “polêmica Estados Unidos” e publicou por aí afora como se tivesse ganho a discussão. Depois de algum tempo retirou tudo. Voltou agora renascido. Cita ZPA, coisa que não fazia antes. Ele agora nos dá um banho de alta cultura: em seus textos fervilham Brecht, Manoel Bandeira e citações em alemão.

Outro que me chamou a atenção: Renato Rosati. Ele é tarado pelos filmes da América (do norte) e jamais comenta filmes brasileiros. Os títulos de seus textos, tirados dos filmes, são até bacanas: “O Aristocrático Vincent Price”, “Tropas Estelares”, tudo isso soa bem. Pena que ele pensa que cinema é entretenimento puro. Seus comentários lembram as sofríveis resenhas que aparecem nas contracapas das fitas em locadoras. Rosati precisa dar sangue, ir mais fundo e não se limitar a fazer críticas superficiais. Compre o DVD de Caetano Veloso, Rosati: veja Cinema Falado. Veja São Jerônimo, Uma Onda no Ar, Cronicamente Inviável, Estorvo. Mate a family e vá ao Kinema.

Deixe de lado o fato de que Caetano mesmo esculachou Cronicamente Inviável recentemente, dizendo que é um “Diogo Mainardi piorado”. Caetano disse ter lido os dois romances já lançados pelo Mainardi. Não gostou. “São ruins”, disse ele, com cara de pouco caso. Quanto a Mainardi, eu às vezes leio a coluna dele na Veja, às vezes não. Essa discussão toda, apesar de tudo, é instigante. O filme de Caetano é um filme que tem altos e baixos, mas é um filme rico. Ao mesmo tempo em que tem o papo cabeça de dois intelectuais sobre nossa gelatina burguesa espatifada e o papel do sacerdote, tem Maurício Mattar nu diante do espelho. Eu recolho várias frases interessantes nesse filme: Caetano falou que o neo-rock and roll inglês era um esnobismo de massas. Ora, esse termo é o mesmo usado por Roberto Schwarz para tratar do tropicalismo, em seu artigo Cultura e Política, 1964-69, artigo do qual já falei bastante aqui na Usina, sem eco, como sempre. Não sei se Caetano incluía Smiths e The Cure entre aquilo que ele chamava de “neo-rock and roll inglês”, mas mesmo assim é uma denominação curiosa, principalmente se levarmos em conta que Caetano sempre troca farpas com Schwarz até hoje, dizendo que o esquema arcaico/moderno presente no artigo é empobrecedor em seu livro Verdade Tropical, enquanto Schwarz verificou que Caetas nota as contradições, mas autoriza seu desmanche no comercialismo (também por ocasião do lançamento do livro).

Finalizando, gostaria de observar que as informações sobre Filosofia dadas por Caetano em Cinema Falado são controversas: Heidegger não quis se encontrar com Sartre afirmando que não falava com jornalistas; não encontrei essa informação na recente biografia de Heidegger de autoria de Rüdiger Safranski. Deleuze é que criou o termo pop-filosofia, conforme ele diz em Abecedário de Deleuze, mas Caetano insistiu é que Sartre seria um “pop-filósofo”. Sartre não falou nada de música, o “pop” para ele era a revolução cubana. Nietzsche, autor que Caetano também gosta, comentava música, mas música erudita, nunca música popular... E mesmo a filosofia de Deleuze não é nada popular, no sentido de acessível. Por tudo isso, não é muito aconselhável o termo “pop-filósofo”.

Leio atentamente o discurso pueril de Leonardo Khoury Martins, presidente da UMES sobre o presidente Lula. De forma alguma quem critica Lula está criticando a si próprio. O governo Lula sofre com a sombra de FHC, que conseguiu algo que há muito não se via no Brasil: um presidente sair lançando sua sombra sobre seus sucessores. FHC fez isso ao completar um processo de privatização nunca posto em prática antes no país, exceto no governo Dutra e Castelo Branco, mas nunca tão profundamente. Nosso capitalismo continua dependente, mas uma minoria rica e poderosa se atrelou ao modelo de desconstruir o projeto de nação de Vargas, que enfim é o que fizeram Collor, Itamar, FHC e Lula, em graus diferentes. E essa minoria tem fortes aliados entre os capitalistas estrangeiros, o que faz com que, com o passar do tempo, continuemos aprofundando nossa condição de país explorado e dependente sem melhora essencial das condições de vida da população nem resolução de nossos principais problemas, tais como reforma agrária e dívida externa. A inexperiência de Lula no excecutivo, além de outros fatores, entre os quais a cultura do pragmatismo e do oportunismo em que está mergulhado o PT, o fez entregar-se a essa minoria rica, rendendo-se, desistindo de afrontá-la. Desafiar um banqueiro é perigoso; mas, por outro lado, não há horizonte para o país avançar a não ser combatendo esses males: dependência externa, endividamento do estado em favor dos ricos no Brasil e exterior, latifúndiários bloqueando a reforma agrária através de gente como Luiz Fernando Furlan, ministro da agricultura de Lula. E é claro que dentro do pacote do FMI estão vindo medidas sociais e políticas, tais como a desmobilização dos movimentos sociais e os ataques ao já depauperado ensino público.

No ano de 2004 precisamos continuar criticando e combatendo determinadas políticas do governo, sem nos iludirmos pensando que ele deixará de ser continuísmo da era FHC de uma hora para outra.

















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