Querido,
Abro as cortinas. O jasmin teima em florescer, das ramas decepadas a facão. Bastou-lhe água, um tanto que caiu além do esperado, este outubro, no cerrado.
Qual chuva precisaria minha alma para florescer em versos, novamente...
Os poemas, agora, nascem do perfume das panelas no fogão. Das sementes brotando do ingá de metro, dos coloridos tecidos que costuro.
Confesso as taças de rubi a povoar-me os dias. Nada tenho a esconder desta vida que levo.
Meus reais segredos continuarão guardados, maldado o esforço para expô-los. Não os conheço. Roubaram-me a voz. Onde estarão, mistérios malditos, escondidos tanto que não posso contá-los, cortar as veias do sangue escuro que os guarda.
Mas conheço a mandioca em creme a fumegar lá na cozinha. Os camarões se perfumaram de coentro, tomates frescos, cebolinhas tenras, queijo cremoso. Logo estarão em panelinhas vermelhas e a crosta dourada oferecendo-se, despertando a gula de um amigo.
Novamente, na minha alma, Adélia bate o osso no prato. Cora faz doce. Soledad se queda e seus olhos perguntam... Perguntam e jamais se fecham.
Plantei hoje. Bacupari, carambola, abacates. Ontem, feijões em vagem, pepinos, tomates, abóboras, melancias, baru e jatobá.
Para plantar, arranco pedras enormes. Todos os dias. Vamos quebrando-as. Empilhando-as, uma a uma.
Teimo em florestas.
Mas não sei. Talvez precisemos de pedras. Ali mesmo, onde estão.
E tu, vais bem...
Tânia
22 de outubro de 2011
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