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Artigos-->O Homem Ideal -- 25/12/2003 - 16:01 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O HOMEM IDEAL

Lílian Maial







Com a proximidade do Dia dos Namorados, comecei a verificar a quantidade de pessoas solitárias por opção. Bem, nem sempre por uma opção consciente, mas uma opção quase que doentia, compulsiva. Com isso, uma tendência à tristeza, afastamento e recolhimento reflexivo, emoções afloradas e lágrimas de não ter com quem compartilhar poemas, bombons e cineminha das tardes de Domingo, ou românticos passeios à luz da lua.

Há mulheres que passam a vida inteira à procura do seu "Homem Ideal".

Quantas oportunidades perdem essas tontas de serem felizes, de conseguirem companheiros que as seguiriam ao fim do mundo, de terem uma família e a tão sonhada felicidade, apenas por uma idealização?

Por muitas vezes, eu mesma me questionei sobre isso, se não haveria em algum ponto do planeta (ou quem sabe até em outro...) o tal carinha, que seria a alma gêmea, que se encaixaria como luva de látex na mão do cirurgião.

De tanto passar dias e dias refletindo, a gente acaba por deixar o pensamento divagar por aí, por vezes esbarrando em coisinhas simples, como digitais e gêmeos idênticos.

É verdade, meus pensamentos filosóficos viajaram por Platão, Sócrates, Descartes, Sartre e tantos outros, mas foram as impressões digitais que mais falaram a respeito disso.

Ora, se entre duas pessoas nesse mundão-de-meu-deus não existem duas que tenham as mesmas impressões digitais, como esperar encontrar alguém que supra TODAS as nossas expectativas de vida em comum? É como querer encontrar nosso reflexo no rosto de alguém na rua, assim, de repente.

Tudo isso para chegar à reles conclusão que não existe o “príncipe encantado”, ou o “homem ideal”.

Na verdade, seria detestável esse homem. Algo entre Romeu, Elliot Ness (“Os Intocáveis”), D. Juan e o Papa. Já conseguiram imaginar um homem ao mesmo tempo bem apessoado, romântico, sensual, surpreendente, arrebatador, culto, inteligente, bem sucedido, absolutamente íntegro, de bom coração, altruísta, místico, aventureiro, bom de briga, defensor dos interesses dos desfavorecidos, ao mesmo tempo que saiba preservar e desenvolver seu patrimônio, sua independência financeira, saiba aproveitar a vida em seus momentos de lazer, só tenha olhos para você... já pensou? Seria um homem chatérrimo e, no mínimo, freqüentador assíduo de instituições psiquiátricas e usuário de anti-depressivos e sedativos de toda espécie... aí D. Juan teria sua libido comprometida...



Bom, e aí, como ficamos?

Aí são outros quinhentos. Partindo do pressuposto que tal homem não exista, o que nos sobra? Simplesmente o homem real (nada a ver com plano financeiro, que apenas aparenta durar 4 anos e volta a ser tudo o que se temia).

Aquele homem comum, com seus defeitos e qualidades, mas que, na balança de nossas carências, tenha sempre o prato pendendo para o nosso lado.

Aquele homem que nos é familiar, carinhoso na hora do carinho, honesto na hora das contas, genioso na hora da decisão, meigo na hora da agonia, prestativo na hora da necessidade e apenas homem na sua hora de ser apenas mulher.

Dê uma olhadinha em volta, talvez, bem aí do seu lado, não será ele?

Tudo bem, tá longe de ser um Richard Gere, nem passa perto do Eike Baptista (mas você também é lá alguma Luma?), tá meio gordinho, um tanto calvo, alguns fios brancos a mais, tá meio durango, sem muito ânimo para noitadas. Hummm, sei... Mas daria um pulo de onde estivesse para lhe levar a um bom médico, se você passasse mal, ou iria correndo debaixo de chuva buscar o remédio que lhe aliviasse as dores. Dobraria noite sem dormir se você tivesse que estudar para um concurso e precisasse que ele lhe tomasse as lições. Sairia dos confins e daria uma volta pela cidade só para lhe oferecer uma carona em dia de greve de condução. Prezaria seu conforto e bem-estar acima de qualquer coisa. Telefonaria de algum lugar difícil apenas para ouvir você dizer que passou naquele concurso impossível. Sairia da dieta só para lhe levar àquela pizzaria da moda. Aceitaria tirar o bigode apenas para não irritar sua pele sensível e não perder a doçura de seus beijos, mesmo que só a beije eventualmente.

É... parece que é ele. Mas ainda há dúvidas. Esse aí tem tantos defeitos...

Ah, mas você não, você é perfeita! Tem um gênio tão fácil de conviver...



Criatura, o Homem Ideal é apenas o reflexo narcisista da opinião que você faz de você mesma e quer, a todo custo, encontrar nele. Decerto, se você porventura o achasse, logo, logo encontraria uma série de defeitos, seus defeitos (inclusive uma falta absoluta de modéstia), e o descartaria. Você não agüentaria viver com duas (ou dois) de você.

Não venho aqui defender o “ruim com ele, pior sem ele”, nem morta! Apenas chamo a atenção para aquelas buscas idealizadas, aquele padrão de exigência acima do lógico, da média, do esperado. Nada de expectativas de seres especiais, ou que “o que é seu está guardado”. Isso é bobagem da grossa.



Então, quando um homem se torna pretendente à vaga se SEU homem, não o olhe com olhos de diretor de cinema, que já tem um roteiro nas mãos e já sabe como o filme acaba. Olhe-o com os olhos da realidade, com os olhos da sensatez, com os olhos de um possível companheiro para dias bons e maus de ambos.

Olhos de quem enxerga um homem quando olha um deus, e não vice-versa.

Olhos que não se adiantam e não se atrasam, apenas marcam, na retina, o momento.



Agora que o encontrou, ou, ao menos, percebeu que é viável, tente adequar o que tem ao que precisa e espera. E, além disso, procure entender o que ELE espera e necessita. Só com esse entendimento e desprendimento poderá conseguir a realização dos sonhos possíveis.



Claro que os impossíveis continuarão a rondar feito fantasmas lembrando sempre como poderia ser maravilhoso e melhor. Contudo, esse futuro do pretérito nunca se tornará presente e, no entanto, seu presente pode se transformar em passado num singelo lapso de tempo.



Nada de ficar com o primeiro homem que aparecer, também não é por aí. E nada de sair à cata de um cara que se enquadre em padrões pré-estabelecidos. Simplesmente deixe a vida fluir, deixe que os encontros aconteçam, fique atenta às pessoas fabulosas que a circundam, mesmo sem interesse pessoal e afetivo nelas.

É de relacionamentos sólidos de amizade e respeito que costumam surgir os amores mais duradouros.

Se você se permitir apenas viver seus momentos, um de cada vez, sem atropelos, sem “fome” e sem desespero, certamente alguém há de despertar batimentos diferentes nesse coraçãozinho ávido por se apaixonar.

E se você estiver a par de todas essas armadilhas da visão narcisista que o Homem Ideal implica, você com certeza terá ao seu lado não o Ideal, mas o mais maravilhoso que o destino lhe reservou.





Lílian Maial

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