Dona Dulce, sou eu outra vez. Reli a primeira carta que te escrevi depois que se foi e não pude conter esse meu choro que insiste em te chorar. Sinto tanto não tê-la aqui... tanto... Esse choro descontrolado que choro agora é pela saudade de conversar com a senhora. Saudade de ouvi-la perguntando ao Carlo se ele queria o seu leitinho. Só o da senhora servia quando estávamos reunidos. Sinto saudade dos nossos passeios pela fazenda à procura de lindas flores para eu fotografar. As flores que tanto amou. Sabia que o Carlinhos escolheu uma das fotos que fiz para entregar como lembrança sua? Sinto saudade de quando a senhora nos dizia que não tinha feito nada de bom para o almoço quando na verdade tínhamos um banquete na mesa. E a senhora lá, perguntando por que eu não comia mais. "Está ruim? Sem sal?". Ai! Que saudade da sua elegância. Da sua beleza. Da sua educação. Que saudade de conversar com a senhora sobre as novelas! Nossa! Até hoje, quando me inflamo por causa de alguma cena, o João me diz: "menos, dona Dulce." Se eu te contar... a senhora perdeu o maior vilão de todos os tempos. Eu o adorava rsrs... seu nome era Léo. Mas essa novela a senhora não viu... e isso me rasga por dentro... Lembrei-me, conversando com umas amigas um dia desses, de quando o João chegava a sua casa dizendo que eu só fui com ele porque teríamos bacalhau para o almoço rsrs... e a senhora, assustada, dizia com os olhos arregalados: "mas eu não fiz bacalhau! E agora?"
Faz tempo que estou querendo falar. É que eu sempre sinto essa saudade que me corta. Sei que está conosco. Eu te sinto aqui no meu coração. E isso me acalma. Repito: nós te amamos, minha querida. E sei que voltarei a te escrever, porque, enquanto viva eu estiver, não vou deixar de te lembrar.
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