Hoje, ao me aproximar da Praça Quinze, um dos marcos mais representativos de Florianópolis, senti uma lufada de felicidade vinda de algum lugar. Um sentimento bom, uma alegria incontida, uma emanação benigna. Quanto mais me aproximava da praça, maior a sensação de bem-estar.
E então percebi de onde vieram os bons fluidos: tinham libertado a figueira, enclausurada há meses, durante todo o verão, por cerca alta de tábuas, para "reconstrução" dos jardins! Não mais tapumes a impedir que ela lançasse seus braços sobre os transeuntes a admirar-lhe a beleza e a sua longevidade. Estava livre! Estava livre, de novo, a grande e bela árvore centenária! E parecia abraçar as centenas de pessoas que passeavam sob seus galhos, como a dizer-lhes: "Sejam bem-vindos, amigos, que saudade! Já podem sentar na praça, minha casa, contar as novidades! Quero saber tudo de vocês, que não pude ver passando ao largo de mim, nestes últimos meses! Fiquei muito tempo presa dentro dos muros de compensado que construíram a minha volta, mas agora posso deixá-los aconchegarem-se ao meu regaço, como antigamente! Demorou demais, mas os jardins da minha praça estão mais bonitos e agora posso finalmente oferecê-los a vocês. Eles são seus!"
Eu sorri, disfarçadamente, para não pensarem que estou mais maluco do que realmente sou. Sorri para ela e por ela, e não disse, mas acho que ela entendeu que eu estava feliz porque ela estava feliz. A sensação de vê-la respirar, livre, os galhos acenando para quem passava ou parava para matar a saudade, era uma coisa muito forte. O vento assobiando por entre suas folhas parecia a velha figueira querendo dizer: obrigado, caminhantes da minha cidade, por não me esquecerem, ainda que tivessem me escondido. Estarei sempre aqui, arauto da minha cidade, cúmplice do tempo, testemunha da sua história...
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