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Artigos-->AMADA, EU TE AMO!... -- 20/12/2003 - 10:54 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AMADA, EU TE AMO!...



Estou precisando de que alguém envie um e-mail por mim. Leia por favor que eu explico...

Talvez muito poucos homens possam afirmar isso que afirmo. Porque são poucos os que têm o privilégio de viver a experiência que vivi. Pois o orgulho ou o preconceito são sentimentos baixos que colocam à margem os homossexuais, os negros pobres e as prostitutas. E é por isso mesmo que esses são tratados como se tivessem uma doença contagiosa ou até mesmo como se fossem animais.

Eu tenho a ousadia de afirmar que não existe quem ame mais do que uma prostituta quando ama, e seus sentimentos podem ser tão cândidos quanto os das mais puras crianças. Eu conheci o amor de uma delas, e provei desse banquete que o amor só oferece nas bandejas dessa candura.



Há muitos anos eu voltava do trabalho numa sexta-feira, e quando passava por uma avenida movimentada já perto de casa senti o volante puxando para um lado como se o pneu estivesse murchando. Mas resolvi andar mesmo assim, já que estava chegando. O último semáforo que teria que enfrentar fechou quando eu estava chegando nele. Parei e esperei que abrisse. E enquanto estava parado, vi uma mulher na calçada à minha frente, com uma roupa que não condizia com a temperatura que estava nesse momento. Lembro muito bem que era uma dessas noites de tempo enjoado de garoa fina e fria. Notei também à distância que ela enxugava o rosto como se estivesse chorando.

Tudo aconteceu muito rápido como certos detalhes que fazem diferente a nossa vida. Quando o sinaleiro abriu pra mim e tentei arrancar, a direção do carro estava mais pesada e tive que parar ao lado... Coincidiu com o lugar em que a mulher estava. E antes mesmo que eu saísse e constatasse o pneu furado, ela abriu a porta entrou e sentou-se numa atitude que achei estranha, porque eu não a havia convidado mesmo porque nem sabia quem era. Seu rosto era lindo e vi também nele que tinha chorado.

Cumprimentou-me, e percebi logo que havia algum mal entendido. Sorriu um sorriso triste, e eu por um instante fiquei esperando sem saber o que fazer. Então disse como se tudo já estivesse combinado entre nós:

- Vamos?...

- Como, vamos? – eu perguntei.

Como resposta ela sorriu com um ar de desentendida. Eu disse:

- Somos estranhos, não?

- Claro que somos, - disse ainda sorrindo e vi inocência em seu sorriso.

- Desculpe perguntar, mas o que é que você está fazendo sentada dentro de um carro de um estranho sem ser convidada a fazer isso? – eu perguntei também sorrindo, mas fingindo seriedade

Ela me olhou com o olhar mais inocente que eu jamais vira numa pessoa adulta, e vi sinceridade no seu embaraço quando perguntou:

- Não estou entendendo?...

- Não estou entendendo, digo eu!...

Mas em pouco tempo de conversa ela soube que eu não era o cliente que esperava. Acabamos fazendo uma amizade dessas que dizem que fomos com o santo um do outro...

Um carro igualzinho ao meu manobrou e estacionou à nossa frente. A moça pareceu tomar consciência, e fechou o semblante baixando a cabeça, num gesto infantil de quem quer se esconder.

- Infelizmente, preciso ir – ela disse com tristeza.

- Se não quer, não vá, - eu disse, me intrometendo sem saber por quê. Ela sorriu novamente parecendo uma adolescente saltitante, e alegre me deu um beijo no rosto.

Um homem saiu do carro e olhava ao redor como se procurasse alguém. Pegou o celular, ligou e imediatamente ouvimos o toque dentro da bolsa da moça ao meu lado. Ela só me olhou com um sorriso significativo, abriu a bolsa, clicou uma tecla para que ele parasse de tocar e guardou novamente. Quando o homem se virou para o nosso lado ela se inclinou e encostou o rosto em minha perna. Foi nesse instante que senti voltar muitos anos na minha vida, e me vi numa aventura de esconde-esconde como os adolescentes costumam fazer. O homem entrou no carro, e antes de sair, o aparelho na bolsa da moça tocou novamente, mas dessa vez ela nem abriu a bolsa... Alguns minutos depois, estávamos entrando em minha casa.

Este foi o início de uma das mais lindas histórias que o mundo pôde presenciar, mas não falarei dos detalhes íntimos que mais tarde tivemos. Eles só aconteceram muito tempo depois, e foram lindos e íntimos demais para serem expostos... Também não há nenhuma necessidade de contá-los porque são somente detalhes pequenos do amor...



A minha casa se transformou desse dia em diante. Fizemos uma troca, mas fui eu quem mais ganhou com ela. A minha amada ficou mais madura depois que me conheceu, mas não perdeu a vivacidade da juventude. E eu voltei a quase metade da minha idade, contagiado porque não há nada que rejuvenesça mais do que o próprio amor. E foi por isso que muitas vezes mais tarde me surpreendi rindo e brincando como se fosse um adolescente.

Conversamos quase a noite toda. Contou-me a sua vida. Viveu rejeitada pelos parentes que a criaram. Recusou-se a contar detalhes de como foi que engravidou na casa dos parentes e como fugiu de lá. Não precisou que me contasse os estragos que esses dias fizeram o seu ego, e nunca mais tocamos nesse assunto. Mas contou de como tivera que se entregar depois a homens estranhos em troca do sustento da sua filha. Disse-me que só saía para as ruas quando não tinha mais dinheiro e a fome e conseqüências dela a forçavam a isso.

Tomou um banho e vestiu meu roupão enquanto suas roupas secavam. E já de madrugada vi que estava com sono e parei de fazer perguntas. Cochilou um pouco, virou-se pra mim e me abraçou como se fôssemos velhos amigos. Quando adormeceu de todo, puxei as cobertas e cobri bem seu corpo e me levantei muito devagarinho para não acordá-la. Depois contemplei seu rosto lindo como de um anjo, e por muitas vezes fiquei pensando que eles existem e podem aparecer de repente nas nossas vidas com estranhas histórias como dessa menina...



Já se passou muito tempo... A filha dela (que hoje me chama de papai) não está mais conosco. Estamos sós, eu e a minha amada, e fico pensando o que seria de mim sem esse anjo que um dia encontrei naquela calçada. Ela vem aqui a todo instante ver como é que estou e me beija e acaricia meu rosto e diz que me ama. Faz massagem nos meus pés para ativar a circulação ou me dar os remédios que tomo. E novamente diz que me ama, e é a coisa mais linda que ouço a todo instante, todos os dias...

Eu não tenho como dizer o mesmo por causa da minha situação, e foi por isso que tive a idéia de escrever o que estou escrevendo com toda dificuldade. E é por isso que especialmente nesse dia queria que não viesse tantas vezes aqui, porque o que faço é uma surpresa pra ela.

Hoje estou paralítico. Um derrame cerebral me tirou a fala, os movimentos das pernas, e do braço direito. Já há muitos dias estou escrevendo essa história teclando com a mão esquerda. Gasto horas pra escrever uma única frase. (Se você não sabe o que é essa dificuldade, tente fazer, e verá o quanto é difícil escrever uma maiúscula, por exemplo). E quando ela vem eu tenho que clicar urgente para que não veja a tela, e descubra o que estou fazendo. Tenho dificuldade também com o mouse...



O meu plano é o seguinte: (se você está recebendo essa história, é porque faz parte do meu plano). Estou enviando e pedindo que cada pessoa que receber, mande de volta ao remetente. Quero que sejam muitos os e-mails, pra que minha amada fique sabendo que mesmo um homem sem fala e sem os movimentos normais, descobre um jeito de dizer: AMADA, EU TE AMO!...

Quero que ela saiba que eu vivi nesses anos todos, A VERDADEITA HISTÓRIA DE AMOR.

Pra quem está lendo isso pode parecer bobagem, mas eu sei que ela vai se emocionar porque sabe toda a dificuldade que tive pra fazer o que fiz. Quero que saiba que fiz tudo nesses anos pra nunca mais vê-la chorando. Mas se dessa vez ela chorar, eu sei que vou chorar junto, mas não porque estou assim...

(Não esqueça de mandar hoje mesmo, porque é o aniversário dela).



**

Adelmario Sampaio



*[É muito agradável receber a quantidade de e-mail resultante da comoção que esse texto causou da última vez que foi veiculado há três meses atrás, mas não mandem por esse motivo. Ele é ficção]

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