A COBIÇA
Então se me desperta a cobiça,
sentimento antes adormecido,
na preguiça duradoura do mero,
do apenas quero,
que desde dantes me oferecia prazer.
E da rua passei a cobiçar,
a calçada mais larga,
onde passo a passo mais andar,
apenas andar,
alimentando esta novidade postiça.
Do céu a amplidão,
o ardente sol e a donaire lua,
as estrelas em vigília noturna,
sempre a observar
[esta pretensiosa andança minha.
Na face do alheio
[que um farto sorriso mereça,
me aflige tamanha cobiça,
em descortinar apenas,
o impulso profundo de fazer sorrir.
Contudo a cobiça maior,
que ansioso deixa todo meu ser,
é escancarar as portas da alma tua,
e nela descobrir,
que me pertencem teus sentimentos.
AdeGa/98
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