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Cartas-->Desabafo de um soldado -- 06/06/2011 - 16:36 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Desabafo de um Soldado.

25 DE AGOSTO

No último dia 25 de agosto, ao despertar-me, à primeira luzdo dia já nascendo, eis que fui saudado, carinhosamente, por minhaesposa, minha querida e doce companheira por 55 anos de plenafelicidade. Ao beijar-me, sabedora de meu acendrado amor peloExército, lembrou-me, orgulhosamente, que aquele era o dia do soldado. Desde então, pus-me a pensar! Onde está o meu Exército? O que estãofazendo com ele? Lembro-me que na Revolução de 1964, quando na Escolade Sargentos das Armas, onde servia como instrutor do Curso deArtilharia, dentro da minha modéstia de um orgulhoso Primeiro Tenente,fiz a minha parte para combater a subversão, a indisciplina, odesrespeito à hierarquia e aquele mal que chamávamos de corrupção. Naquele movimento glorioso, que hoje não encontra ninguém com ummínimo de coragem para defendê-lo, fiz a minha parte para depor umirresponsável, sem, contudo estar de acordo com a continuidade dosgovernos militares e com a tortura que durante alguns anos foipraticada, em nome da defesa do regime democrático. Afinal, o vilipêndio que o meu Exército tem sofrido, os ataquescovardes que tem recebido, as agressões por meio de ações, gestos epalavras vindas daqueles que não conhecem sua história gloriosa, oudaqueles que muito bem a conhecem mas o agridem, exatamente, porquesabem que somos melhores e por esta razão sentem a terrível dor dainveja, nada disso estaria acontecendo hoje, se, ao final do primeirogoverno militar, tivessem devolvido o poder aos civis, depois de daremum fim naquela corja, em vez de permitirem sua volta ao Brasil, ondealguns sobreviventes, até hoje ai estão, dedicados ao revanchismo, quea anistia não conseguiu abolir. Basta lembrar da revolução de Fidel, onde "El paredon" não deixouadversários para contestar o grande ditador. Hoje, vejo com imensa tristeza que a corrupção daquela época nãorepresentava um décimo, da que hoje é praticada pelo Sr. Lula e suaquadrilha. Longe de mim fazer aqui a apologia do golpe, pois entendo que a piordemocracia sempre é melhor do que o melhor regime ditatorial. Mas o que fazemos nós? Onde estão aqueles que se intitulam chefesmilitares? Onde está o amor pela farda verde oliva? Onde está o meuExército? Está na farda aviltada do honrado soldado brasileiro, queusaram, mais de uma vez, para vestir num joão bobo travestido deMinistro da Defesa? (não tenho conseguido ver pela televisão, se é deGeneral ou de um soldado recruta) – não importa! A honra não tem postoou graduação; O que pensam essas pessoas autoras dessa tristeiniciativa? Por que a farda que tanto amo foi posta no corpo de umpaisano que não tem a mínima idéia do que representa a honra de sersoldado? Onde está o meu Exército? Está nas três gemadas sujas deCoronel que concederam a um covarde assassino que chefiou o massacrede colegas de farda, no dia 27 de novembro de 1935, e que hoje, assimcomo o traidor e desertor Lamarca, ostenta o mesmo posto queconquistei, depois de mais de trinta anos de serviço, de dedicação ede amor ao meu querido Exército? Não! A minha farda, que aindapretendo trajar pela última vez, quando estiver, orgulhosamente, pelasmãos de meus amigos e de minha família, a caminho de minha última edefinitiva morada, não tem manchas! É pura! È limpa! Vivi e morrereicom honra! Sou apenas um velho soldado, mas honrado. Minha honra nuncaesteve e não está à venda! Minha farda ostenta o mesmo brilho desdequando, com o espadim de Caxias em punho, jurei defender a minhapátria com o sacrifício de minha própria vida. Eles que me desculpem, mas não entendem esta linguagem. Não aceito, embora nada de concreto possa fazer, que esses bandidos,pelas mãos de outros mais bandidos que eles, ostentem nos ombros asmesmas estrelas que meu Exército me concedeu. Ao me recordar que me foi concedida a honra de assinar o "Livro deHonra" na Academia Militar das Agulhas Negras, por não ter sofridonenhuma punição como Cadete; Ao me recordar que me foi concedida a honra de fazer provas no Cursode Artilharia da AMAN, sem necessitar de um Oficial para fiscalizar,porque a minha honra não me deixava colar; Ao me ver há 50 anos, como Cadete do terceiro ano do Curso deArtilharia, montando um orgulhoso cavalo da parelha tronco,tracionando um Krupp C 26, às três horas da madrugada, pelos campos daFazenda da AMAN, completamente molhado por uma chuva torrencial,confundia-se em minha mente o amor à minha arma, com o cheiro sublimedo suor daquele bravo companheiro, misturado à água que lhe corriapelo corpo, com os olhos rasos d`água, pela emoção que me inundava aalma, cantando, a plenos pulmões, a Canção da minha Artilharia; Naquele dia certifiquei-me que estava pronto para morrer pelo meu Exército. Alguém poderá dizer: Coitado, vive de recordações. Exatamente! Doces ebelas recordações; são elas que me embalam nas minhas angústias ao vero meu Exército pisado e enxovalhado, são elas que me alimentam e queme dão força para continuar a te amar meu Exército querido. Ao me recordar que durante esses anos todos nunca sofri nenhumapunição, uma repreensão sequer; - Ponho-me a meditar: Do que valeutanto brio? Do que valeu tanta vergonha na cara? Valeu-me o orgulhode poder dizer que as minhas estrelas foi o meu querido Exército queas colocou no meu ombro. Valeu-me o consolo de continuar amandoobstinadamente o meu Exército. Hoje, amanhã, além da vida: Naeternidade.

Brasília, 20 de outubro de 2007.

José Maria de Siqueira
Coronel de Artilharia do Exército Brasileiro
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