Rude era para mim o suave langor da tarde,
porque me fazia presente a recordação
e a saudade soluçava em meu peito,
soluço vão e humano — triste —,
soluço de dor.
Feia era a tarde azul sem mácula,
porque eu não estava ali
e a saudade soluçava em meu peito,
mágoa de ter deixado alguém na distância do tempo,
daquilo que já não é,
saudade do futuro,
saudade de um futuro que não virá.
Escura era a tarde de raios de sol vivíssimos cheia,
porque eu fechara os olhos tristes e molhados
e a saudade soluçava em meu peito,
coração de fé puríssima na irrealização do ser,
coração controvertido pela indecisão,
pela ignorância,
pela impossibilidade.
Fria era para mim a tarde ensolarada,
porque a rigidez do gelo me envolvera
e a saudade soluçava em meu peito,
eu que estou aqui e sempre estarei
e sempre fora daqui,
e sempre além,
eu que me debato na ânsia da realidade,
eu que estou perdido dentro da confusão universal,
eu sofro a saudade de querer,
de poder,
eu estou resignado dentro da vivência imprecisa,
eu já não tenho decepções.
08.10.58.
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