Usina de Letras
Usina de Letras
114 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62486 )
Cartas ( 21336)
Contos (13274)
Cordel (10453)
Crônicas (22547)
Discursos (3241)
Ensaios - (10472)
Erótico (13578)
Frases (50875)
Humor (20083)
Infantil (5503)
Infanto Juvenil (4822)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1377)
Poesias (140917)
Redação (3323)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2437)
Textos Jurídicos (1962)
Textos Religiosos/Sermões (6251)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Tubulência -- 30/11/2018 - 15:38 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tão temerosa vinha e carregada.
 Que pôs nos corações um grande medo;
bramindo, o negro mar de longe brada,
como se desse em vão nalgum rochedo.
(Camões)
 
 
Camões assim cantava a glória da navegação portuguesa. E, tão eloquente antes quanto agora, permitiu que Fernão visse em sua frente uma parede. Acenderam-se as luzes de alerta e uma voz feminina anunciou: “Senhoras e senhores. Nimbos se aproximam em rota de colisão, por favor,  mantenham a poltrona na vertical e apertem os cintos. Obrigada!” Agora a voz feminina confirmava a suspeita. Era ela! Fernão conhecia muito bem quando Vannini estava nervosa. Aproximadamente, cinco minutos depois, ela anuncia novamente: “Senhoras e senhores,  por favor, mantenham a calma. Preparem-se para um possível pouso de emergência.Utilizem os assentos flutuantes. Obrigada!”
Os passageiros estavam com a cabeça sobre os joelhos e os tripulantes, pareciam compenetrados demais, vasculhando  procedimentos de segurança. Fernão sabia como abrir a porta de emergência situada nas proximidades de sua poltrona. Levantou-se. As pernas tremiam e o coração queria saltar do peito. Assentou-se. Deixou que se passassem alguns segundos... Abriu o terno, conferiu o colete, retirou o paletó e afrouxou os sapatos. Queria ter penas de gaivota na cabeça, nas asas... Queria voar!  Ele era um Fernão como diziam os colegas de escola. Sim!...Era Fernão um nácute;ufrago em potencial. Não havia jeito! Titanic se partiria no choque contra um iceberg. E se sentia como que acorrentado no porão de um navio negreiro. Superaria seus limites como uma gaivota voando a uma velocidade impossível para sua espécie ou se espatifaria em um paredão de ácute;gua dura como concreto.
Cenas do Armageddon desfilavam em sua mente: viu sete anjos e sete candelabros em volta de suntuoso trono. No meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do homem, dizia “É chegada a hora! Escreve, pois, o que viste, tanto as coisas atuais como as futuras”. O primeiro anjo tocou. Saraivada de fogo  percorreu o interior  da nave. O anjo abriu o sétimo selo e em vez de silêncio, ouviam-se gritos, alaridos e pedido de socorro. Muitos fizeram o que não podia ser feito: levantaram-se, tentaram arrumar a bagagem que caia sobre suas cabeças e foram atirados contra a fuselagem. Fernão viu-se sentado a uma mesa no panteão da memória com o livro da vida aberto no regaço. Diante de seus olhos pácute;ginas amarrotadas e o rascunho de sua vida que esperava ser reescrito.  Pesava-lhe a dor de ver tantas pácute;ginas em branco...  Quanta vez deixou de dizer à pessoa amada “Eu te amo!” Quanta vez virara o rosto para Vannini, e maculara sua pureza com infâmias e desdéns!... Quanta vez Talita dera a ele a oportunidade de refazer a própria história e as pácute;ginas permaneciam em branco!... Desejou abraçar Vannini e sentiu-se na pele de Melenau viajando no mesmo barco com Pácute;ris.
Casados que hácute; tempos não conversavam, mantinham agora as cabeças coladinhas uma à outra e balbuciavam alguma coisa ininteligível. Irmã Paola tentou debulhar um terço em voz alta e não conseguiu. No meio do corredor, um homem ergueu a voz: “Sou PASTOR!” E traçou com as duas mãos no ar o sinal da cruz, dizendo: “Pelo poder que me concede a Santa Madre Igreja, eu perdoou todos os vossos pecados inconfessos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Alguns responderam: “AMÉM!” Ninivitas creram e balbuciaram palavras quase inaudíveis,outros, apenas moviam os lácute;bios como se falassem a língua dos anjos. Por um instante, fez-se silêncio no céu. Em êxtase, Fernão entrou na cena de seu batismo, viu os pais e padrinhos na Igreja da Consolação. Viu uma pia com ácute;gua e pessoas da comunidade que acendiam velas no Círio Pascal. Com um crucifixo no peito e outro bem maior na mão o sacerdote ungia-lhe a testa e o peito com o óleo dos catecúmenos. Viu ainda um animal asqueroso levantar-se do mar. A Fera tinha dez chifres, sete cabeças e muito poder sobre a Terra. A fera queria apagar a vela que os cristãos acenderam para Deus, lançando espessa fumaça na mente daqueles que vacilavam na fé. A mãe traçou uma cruz na testa do filho. Houve uma explosão que só o menino ouviu e chorou. O animal desapareceu numa nuvem de fumaça negra. Fernão viu também Moisés no monte Nebo jogar seu manto para Josué, dizendo-lhe: “O que estácute; oculto pertence ao Senhor, nosso Deus; o que foi revelado é para nós e para nossos filhos. Nada temas. O Senhor mesmo marcharácute; diante de ti, e estarácute; contigo”. Passou em seguida o manto para Josué e Josué passou o manto sobre a cabeça do menino. Veio uma nuvem luminosa e o envolveu. Extácute;tico, Fernão desprendeu-se do sobrenatural e lentamente, retornava ao mundo dos mortais. Não muito bem desenhadas, traçou uma cruz na testa, uma na boca e outra no peito.  Objetos, poltronas e bagagens voavam em todas as direções e se chocavam, ora contra a fuselagem, ora contra os passageiros e tripulantes. Gravemente ferido, o corpo do Pastor estava estendido, a fio comprido, no corredor da aeronave.
—Tem algum médico a bordo? — perguntou a chefe dos comissácute;rios.
 André Albuquerque conseguiu, com dificuldade, pegar sua maleta. Em seguida, a doutora, Tânia Piccininitambém apanhou a dela. Os dois caíram inertes. Algum metal pesado os atingiu e suas maletas foram sugadas pela janela quebrada. Também foram sugados muitos passageiros e lançados para fora da nave. Vannini evitou o choque com um notebook que passava voando. Abaixou-se e sentou pensativa numa poltrona ao lado de uma velhinha morta. Arrependeu-se de ter avisado a Hemor que Fernão estava a bordo. “E se ao invés de desviar dos nimbos, o piloto resolveu entrar em rota de colisão com eles? Fernão é “esquizo”. Hemor também. E se Fernão invadir a cabine de comando? Se os dois entrarem em luta corporal...”
 Levantou-se segurando firme em uma e outra poltrona.  Ainda sentado Fernão estava. Ela assentou-se juntinho dele e estendeu-lhe a mão. “Que seja eterno enquanto dure!” Pensou ele, entregando-lhe o bilhete guardado hácute; anos, com anotações recentes.
—Leia o verso — disse ele.
Vannini leu em silêncio e ouviu os gritos do coração.
— Vai dar certo, disse ela.
Colocou o bilhete em um dos bolsos do uniforme e  voltou para a cabine pensando em sua história, sua vida com Fernão.


http://www.textoregistrado.com.br/images/logo.jpg
 
 
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 30/11/2018
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui