Morgana aguçava o sexto sentido para decifrar os pensamentos do marido que, agora conduzia Talita sobre o tapete vermelho da Basílica, andando a passos lentos como quem caminha sem querer chegar. O ministério de música para. Desolado, Cristiano entrega Talita a Robert, como Abraão entregou Sara ao faraó e sozinho volta. Sentou-se ao lado de Morgana e ela o desprezou. Não lhe sorriu, desejou matácute;-lo. Frei Gaspar saúda os noivos. A assembleia muito reduzida fica de pé, faz o sinal da cruz e reza o Ato Penitencial. Cumpriu-se o ritual de fé até o momento do “SIM” e então, pergunta o celebrante:
— Robert Bessone, é de livre e espontânea vontade que aceita Talita Cumi, como sua legítima esposa?...
— Sim!
Voltando-se para a noiva, repete o questionamento.
O silêncio do “sim” que não veio misturou-se com o barulho vindo da porta principal da igreja como se alguém pulasse cordas. Lácute;, um homem gesticulava, pulava e sacudia desesperadamente os braços. Frei Gaspar não acredita no que vê. Pensa nos proclamas que autorizou reduzir o prazo de divulgação... Jeremias continuava pulando sobre brasas, subia e descia balançando as partes vergonhosas, mal guardadas. Estava com uma camisa listrada, provavelmente, de um pijama, e na parte de baixo, uma ceroula de braguilha aberta, sem botão ou zíper. Estarrecido o frei conjecturava: “As mulheres seguram os seios quando pulam, jácute; os homens não se preocupam com seus penduricalhos. Serácute; por que Jeremias veio com aquele traje ao casamento da filha?” Alguém lhe passou as alianças e uma luz brilhou como lampejo: “Se alguém souber de algum IMPEDIMENTO, fale agora, ou se cale para sempre!” Um grito pula no ar como foguete itabirano: “Eles são irmãos! Eles são irmãos...”
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