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Contos-->TRELIÇA -- 11/11/2001 - 22:38 (Marcelina M. Morschel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A cortina lilás correu. Viu-se apenas a mão do homem que a puxara. Seu franzido ficara bem, parecia uma saia de mulher que no requebrar do gingado a balança. Ouvem-se passos femininos, o salto faz barulho no ladrilho. Depois, o silêncio. Aquele recinto estava quase vazio; dezesseis horas, apenas um estalar aqui, outro ali e leves sussurros. Os cotovelos apoiados, as mãos tentando amparar o rosto. Seus grandes olhos penetram por um buraco pequeno e vêem os joelhos, as mãos. Afasta-se um pouco mais, procura outro buraquinho e dá de frente com o rosto de um homem. Meia idade, recostado displicentemente. Pediu que ela falasse. Mas, o êxtase do primeiro olhar a emudeceu. Ele tateou os desenhos da treliça, mas seus dedos eram grossos. Ela pôs o seu dedo que conseguiu passar, somente a pontinha. Ele o pegou com as unhas. Ela sentiu o dedo molhado pela língua que lhe fazia cócegas e puxou. Houve um convite para deixar. Os dois encostaram a cabeça na treliça e sussurraram frases amorosas, descompassadas. Depois, o adeus. Ela levantou-se, ouviu-se novamente o barulho dos sapatos. A cortina abriu-se, o homem saiu e, sem olhar, foi para a frente do templo. Ela ficou num dos bancos, suspirando de amores. Aquilo repetia-se semanalmente e, depois, todos os dias. Assim começou o amor proibido, tão cobiçado. O suor corria, as ventas pulsavam, tudo latejava. A treliça arranhada por dentro e os gemidos contidos no encontro clandestino diziam sim e não à lascívia que aos poucos sufocava o homem e alegrava a mulher. A situação não podia durar mais tempo. O escândalo, mais cedo ou mais tarde, aconteceria. Era melhor aproveitar do momento.
Naquele dia ela chegou e as palavras foram poucas. Desabotoou o primeiro botão do vestido e, com muito jeito, deixou os seios à mostra. Dois olhos se abriram querendo apalpá-los e não podiam. Então ela punha o dedo no buraquinho da treliça e sentia o ardor da boca querendo saciar-se. Ela estava à mercê de quem entrasse na igreja, mas ele estava escondido, podia retorcer-se de prazer. E assim era. Quando tirava do bolso um lenço, ela sabia que o gozo estava próximo. Encostava a face na treliça, gemia baixinho, esquecendo, por instantes, que estavam separados, esticando as pernas, tremia, e o sumo do amor solitário era depositado no lenço branco. Suspirava fundo, enxugava o suor, dizia que eram loucos e a despedia pedindo que voltasse. Ela voltava sempre. E era bom.
Passaram-se meses. Quando chegou a primavera, o barulho dos saltos ecoou mais do que de costume. A igreja estava vazia. Ela sentou e esperou. Ele veio chegando. Ao ver tudo deserto, tomou-a nos braços e levou-a para dentro do confessionário, fechou a cortina. Ela abriu os olhos espantada, mas não teve tempo. Ele foi tirando seu vestido, beijando cada pedaço de sua carne. Ali, naquele aperto, ela nua, sentou-se em seu colo. La pietá. O que aconteceu, só a cortina roxa e o retângulo de treliça, poderiam contar. Ao sair, ela estava com os olhos brilhantes, ele parecia derrotado. Ela sentou-se num dos bancos, ele subiu os degraus do altar e sumiu pela porta da sacristia. Ela saiu requebrante, batendo os saltos na calçada.
Dia seguinte era sábado. Movimento na igreja. Ela sabia que não poderia ser como no dia anterior, mas ficou esperando. Ele não apareceu. Ela subiu os degraus do altar, entrou na sacristia. Perguntou por ele. Viajou. Para onde? Ninguém sabe. Por quê? Ninguém sabe. Ela deixou cair os dois braços ao longo do corpo e saiu. Foi até à marcenaria mais próxima. Conversou, escreveu, abriu a bolsa, fez um cheque. Dias depois, seu quarto estava rodeado por uma parede de treliça. Passava os dias enfiando os dedos nos buraquinhos e roçando as faces na madeira. Endoidou, diziam os parentes. Doidice de mulher balzaquiana.
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