Usina de Letras
Usina de Letras
275 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10302)

Erótico (13562)

Frases (50483)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->FUNÇÃO DO ARTISTA -- 14/12/2003 - 21:13 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“FUNÇÃO DO ARTISTA”

Por: Fernando Pessoa







“MAS, PERGUNTAR-SE-Á TALVEZ, como acomodar este princípio com o da interdependência de funções que limita e integra na vida o princípio, correlativo, da divisão do trabalho social? A resposta é simples. A interdependência das funções heterogêneas da vida social não é do âmbito da consciência humana; pertence, antes, à parte da vida social que é inteiramente pertença das forças naturais que subjazem toda a atividade do homem. O sapateiro, quando faz botas e sapatos, e só botas e sapatos, não está exercendo esse mister com a consciência social de que funciona dentro do princípio da divisão do trabalho social, e de que entre esse mister e outros há uma interdependência. O político, quando faz a sua política, não pensa de momento senão nas suas ambições pessoais, e, por vezes, no destino do país que pretende governar; não lhe ocorre, senão em momentos de reflexão, não propriamente políticos, portanto, que está adentro daqueles dois princípios, de que se trata, da vida das sociedades.

Por isso o artista, como estes outros membros da vida social, de quem acabamos de falar, não tem senão que exercer a sua arte, curando de a exercer tão bem como possa. Todas as outras considerações lhe devem ser alheias: e assim cumpre o princípio da divisão do trabalho social, e cumpre-o tanto melhor quanto menos deixar entrar para a sua arte elementos de preocupação com tudo quanto a não seja. Com a interdependência dessa sua atividade artística com as outras funções sociais ele não tem com que se preocupar, porque isso está fora da esfera de quanto ele possa fazer.

Será, assim, impossível o tipo de uomo universale? Será impossível o indivíduo que seja poeta, homem de ciência e política, por extremo exemplo? Não; isso pode ser, logo que ele seja poeta quando é poeta, político quando é político e homem de ciência quando homem de ciência. Não haverá erro se num desses cargos naturais ele contradisser inteiramente o que exprime nos outros. A contradição está imanente na própria natureza de tais cargos; emana da lei natural pela qual eles existem e se inter-relacionam.

Tão-pouco se deve o artista preocupar com a verdade do que descreve. É-lhe lícito escrever um poema onde se violem todas as probabilidades – logo que, é claro, a violação dessas probabilidades não implique diretamente uma falha na natureza do poema, como seria, por exemplo, o anacronismo num poema histórico, o erro psicológico num drama, etc. A verdade pertence à ciência, a moral à vida prática. A faculdade do espírito que trabalha na ciência é a Inteligência (Observação, Reflexão). A faculdade que trabalha na vida ativa é a Vontade. A faculdade de que depende a Arte é a Emoção. Não tem de comum com as outras nada, a não ser o ser humano como elas.

Quanto à má influência exercida pela Arte na vida prática, isso é um dos delírios dos avinhados da Inteligência. A arte propaganda faz mal, porque, por ser propaganda, é sempre má arte, e, por ser arte, é sempre má propaganda.

O artista não tem que se importar com o fim social da arte, ou, antes, com o papel da arte adentro da vida social. Preocupação é essa que compete ao sociólogo e não ao artista. O artista tem só que fazer arte. Pode, é certo, especular sobre o fim da arte na vida das sociedades, mas ao faze-lo, não está sendo artista, mas sim sociólogo; não é um artista quem faz essa especulação, é um sociólogo simplesmente.”



***



Então? Quando um artista usa sua função para criticar a sociedade, apontar falhas no sistema social, interferir no cotidiano dos indivíduos, ditar comportamentos e cultura, ele deixa de ser artista tomando para si outra função?



Analisemos o texto sem subjugar o contexto e a época em que Fernando Pessoa vivia. Na modernidade do século XXI, numa sociedade mutante onde valores e princípios são constantemente violados, repensados, descartados e ignorados, o artista deve exercer, enquanto na função de artista, seu papel social com o poder da influência. Papel social e Função social são distintos.



A liberdade da arte literária, numa democracia, obviamente, delega ao artista a obrigatoriedade, não interdependência, mas, da inter-relação da função e do papel social do artista.



Qual de nós tem presente na consciência, durante o exercício de sua função social na sociedade, o papel social que, direta ou indiretamente, estará exercendo? O artista tem emanado em sua arte a sua função e seu papel.



Edson Campolina.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui