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Artigos-->Saudosismo, Não! Boas Lembranças. -- 14/12/2003 - 20:04 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






Bons Tempos!...

(Por Domingos Oliveira Medeiros)



Pode até ser confundido com saudosismo, mas não é. Apenas lembranças que nos pegam de surpresas. Daquelas que andam de braços dados com a saudade. Que nos fazem fechar o livro que estávamos lendo; trocar, de imediato, de interesse; inverter a pauta de prioridades; e seguir o roteiro de imagens sugerido por nosso arquivo mental. Bons tempos!



Tempo em que podíamos andar pelas ruas da cidade, de mãos nos bolsos, assobiando, sem lenço e sem documento; apreciando o sol invadindo as bancas de revistas. Tempo em que o crime era desorganizado. E todos, à polícia, temiam.



Tempo ruim para os que negociavam com a venda de grades de ferro, portões eletrônicos e blindagem de automóveis. Tempos bons para os que vendiam sonhos e esperanças.



Tempos em que tínhamos mais tempo para buscar a felicidade. Tempos reais, sem a virtualidade dos computadores; mais demorados, sim, e por isso mesmo mais saborosos, porque sem a correria de hoje; a correria para o nada. Que explode na direção apontada pela mídia; que dá o tom da moda, à cata de moedas, sem a preocupação com a informação e a formação do povo.



Tempos dos telefones fixos, que, se por um lado, eram exclusividade de um seleto grupo da sociedade, melhores aquinhoados economicamente, de outra parte não permitiam a overdose de comunicação entre presos e suas organizações criminosas. Cada preso, no máximo, falava uma vez por dia, sob o olhar e ouvidos vigilantes dos agentes penitenciários.



Tempo em que os mocinhos e bandidos desfilavam, tão-somente, pelos gibis: piratas, mágicos, xerifes, super-homens, reis, príncipes e gladiadores. Tempo em que o futebol era praticado com arte e com amor à camisa; tempo em que, no dizer do saudoso Nelson Rodrigues, a seleção representava a “Pátria de Chuteiras”.



Tempo de grandes festivais de música popular brasileira. Tempo do disco de vinil. Tempos em que não havia a menor possibilidade de pirataria; até mesmo por absoluta falta de tecnologia e a despeito da qualidade das composições musicais; e da qualidade de seus intérpretes.



Tempo de mais equilíbrio entre os povos. Tempo da guerra fria. Onde a hegemonia era partilhada por convicções políticas diferenciadas. Potências que pensavam diferentes e se respeitavam. Tempos de observação às leis e à soberania das nações. Onde a imposição não prevalecia. Tempos de relativa paz mundial. Sem guerras pré-fabricadas. Por interesses mesquinhos. De olho na riqueza dos vizinhos.



Tempos em que ainda acreditávamos no trem, como sendo o meio de transporte melhor adequado às grandes dimensões territoriais deste país. Trens que andavam nos trilhos da economia: para escoar a produção e para dar suporte ao turismo. Trens que respeitavam o meio ambiente. Que não poluíam. Mas que, hoje, infelizmente, perderam-se no tempo da espera pelo bonde do tempo; que já passou, faz tempo.



Até mesmo em relação ao Programa do Álcool. Desenvolvemos e dominamos sua tecnologia. Tínhamos, e ainda temos, todas as condições favoráveis para o plantio e a produção de sua matéria-prima, a cana-de-açúcar. E continuamos importando gasolina. Não sei o porquê de o Brasil, até hoje, não investir no refino do petróleo aqui produzido.



Bons tempos! Em que existia o Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP. Um exemplo de modelo brasileiro de administração pública. Responsável pela supervisão, coordenação e controle dos recursos humanos, material e patrimônio, orçamento e finanças, e legislação e normas, incluindo auditoria de pessoal.



Tempo de respeito ao sistema do mérito. Época em que não havia ingerência de parlamentares na composição do orçamento da União. Que obedecia às diretrizes estabelecidas pelo Poder Executivo. Que não permitia a distribuição do dinheiro público por cotas de interesses eleitoreiros de alguns deputados e senadores.



Tempo em que o servidor público era respeitado. Treinado e qualificado. Melhor remunerado. E os aposentados e pensionistas eram tratados como seres humanos. Que deram sua contribuição ao Estado, e que, por isso mesmo, mereciam o descanso na forma da sua contribuição previdenciária.



Tempo em que o menor de quatorze anos, sob a proteção da CLT, podia trabalhar com carteira assinada. E estudar em bons colégios públicos. E ter todos os seus direitos garantidos.



Tempo em que a Previdência era melhor estruturada. Época dos institutos de aposentadoria e pensões organizados por classes profissionais. A melhor maneira, do ponto de vista da administração e gerência destas atividades. Uma estrutura organizacional para cada classe. Um orçamento, também. Maior controle e maior segurança na aplicação dos recursos. Assim era a Previdência.



O IAPB, dos bancários; o IAPC, dos comerciários; o IAPI, dos industriários; o IPASE, dos servidores públicos, e assim por diante. Cada qual tratando de sua classe específica. Modelo de organização que não permitia, como hoje, a corrupção e o desvio de recursos. Pois não se podia corromper várias estruturas independentes de poder. Ainda mais com o controle mais eficiente, por envolver um número menor de beneficiários.



Depois que reuniram todos os institutos em um só, o INSS, criou-se o grande elefante branco. Pulverizou-se recursos e registros. Ficou mais fácil corromper, pois o comando passou a ser único. E o descontrole não demorou a aparecer. Perdemos, inclusive, a motivação entre os institutos para ver quem oferecia melhor serviços aos seus beneficiários.



Tem razão o presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, João Domingos dos Santos, em artigo publicado na imprensa:

.................

“Das eleições presidenciais de 2002 brilhou uma estrela no horizonte do Brasil. A esperança de que um operário, dirigente sindical e opositor renhido e combativo às políticas neoliberais, crítico e detrator do governo que derrotara nas urnas, pudesse hastear a bandeira da esperança. Mas, no governo, o presidente Lula deixa a direita perplexa, a esquerda atônita e os banqueiros satisfeitos. A matriz neoliberal dos governos anteriores foi mantida e aprofundada.



Na Previdência, com os mesmos recursos da impostura, da arrogância e da manipulação de números, o Governo Lula massacrou os direitos e conquistas dos servidores públicos. “

........



“Quanto à forma, Collor, FHC e Lula adotaram o mesmo bordão. Desmoralizar o que se quer desmontar. Collor de Melo criou para o Estado brasileiro a figura do elefante, enorme e obtuso, inoperante, ineficiente e absurdamente grande, que sustentava e enriquecia marajás. (...) Os tempos de FHC mantiveram a perversidade modernizantes das chamadas reformas estruturais. Os poucos verbos da cartilha neoliberal de FHC se resumiam em flexibilizar, privatizar, reduzir, cortar, reformar e modernizar. Dos lados dos trabalhadores e da sociedade, isto significava desmoralizar, desempregar, desmontar, desestruturar e endividar.”



E conclui o citado sindicalista:



“ Não há, por parte do movimento sindical, nenhuma alegria ou entusiasmo diante da possibilidade de fracasso do governo Lula, que será, na história de nosso País, o fracasso e a desmoralização de toda a classe trabalhadora. Ainda que o governo Lula não queira, é necessário que o movimento sindical tenha por compromisso e horizonte a afirmação desse governo. Uma afirmação que se dê na perspectiva da construção do poder social, de um novo Estado, que não seja apenas o espaço da democracia cidadã, mas o estado social de direito, para que a esperança não venha a ser sacrificada no campo das promessas frustradas.”



14 de dezembro de 2003















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