Enfim, acabou o martírio da senadora Heloisa Helena e dos demais deputados. O diretório nacional do PT optou por excluir de seus quadros os parlamentares indisciplinados que votaram contra as orientações do partido nas votações das reformas.
Os quatro parlamentares são pessoas capazes e com uma ficha repleta de serviços prestados às causas sociais. Entretanto, o centro desse episódio é a senadora Heloisa Helena, pela sua representatividade, por ser aguerrida, emotiva e ter uma história de enfrentamento com os poderosos da política brasileira. Todos lembramos que foi a pequena senadora alagoana quem enfrentou o influente senador ACM.
Em seus pronunciamentos a senadora havia chorado várias vezes. Heloisa tinha ciência que no futuro não restaria uma bandeira vermelha com uma estrela amarela para desfraldar.
As lágrimas de Heloisa Helena eram de sentimento e saudade de quem tem trajetória no PT. E o PT não suportou os dogmas que a senadora acredita que são transformadoras da sociedade. Na última década o mundo mudou várias vezes, nós mudamos, mas Heloisa não mudou e continuou firme, sem traumas de consciência e com forte apego às origens do seu pensamento político. O PT também mudou e virou governo e percebeu que a administração pública não se faz com bravatas.
É muito difícil imaginar como seria a despedida de Heloisa após a decisão do diretório. Dar um simples adeus a antigos companheiros ou simplesmente baixar a cabeça e sair para chorar em silêncio. E não sei se seria possível olhar nos olhos de Heloisa.
Penso que Heloisa Helena deixou a sala de reuniões com a altivez dos vencedores, mas com o coração partido e, certamente, passará uma noite mal-dormida. Deverá chorar por semanas porque as lembranças da estrela que a rejeitou estarão vivas em seu coração.
Ao término da reunião no hotel Blue Tree Park faltaram quatro estrelas nessa constelação e o PT não será mais o mesmo. Faltará um pouco da garra feminina e um pouco do atávico sotaque do norte. Haverá um divisor inesquecível. O PT de antes e depois de 14 de dezembro de 2003.
Na entrada do gabinete de Heloisa Helena há uma bandeira emoldurada do PT. 99% das suas camisetas têm alguma coisa do PT. A senadora afirma que vai colocar tudo em uma caixa vedar e mandar para alguém. E conclui com a emoção a flor da pele “isso para que numa noite de saudade a gente não queira remexer e reviver a própria história”.