O PRIMEIRO ANO DO GOVERNO LULA
Filemon F. Martins
Quem votou no Partido dos Trabalhadores, a esta altura está decepcionado com o primeiro ano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não se pode negar que o PT vive momentos cruciais, com alguns pontos positivos e uma esteira de pontos negativos, não obstante o esforço concentrado da cúpula do partido em fazer-se competente e democrático.
José Genoino, presidente nacional do PT tem-se desgastado ao defender com unhas e dentes o ex-segurança que virou empresário em Santo André, no nebuloso caso do assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), ocorrido em janeiro de 2002, além de defender a expulsão de antigos companheiros de partido, sob alegação de disciplina partidária. Afirma José Genoino que “sustentar que eles são vítimas por serem fiéis às teses históricas do PT é algo que não resiste a uma simples análise dos fatos. As teses históricas de um partido são definidas pelas maiorias partidárias. Isso quer dizer que eles são incoerentes com as posições legítimas que o partido vem defendendo ao longo do tempo.”
Aqui, parece que o Sr. Genoino esqueceu-se de dizer que essas posições legítimas foram adotadas após a eleição presidencial. Não há como contestar o que estava escrito, o que foi prometido em palestras e discursos dos atuais dirigentes petistas. Nem o presidente do PT nem o líder do governo, no Senado, conseguem explicar aos eleitores a mudança de rumo do PT, com o aval da elite nacional. Os fatos mostram um PT incoerente, demagogo e em tudo igual aos demais partidos políticos. Manchete de Boris Casoy, no jornal da Record: “Ministério Público Federal denuncia a ministra Benedita da Silva por improbidade administrativa.”
Em Roraima, o governador Flamarion Portela, novo petista, está enrolado com o escândalo dos “gafanhotos”, embora afirme que desconhecia o esquema. O ministro Agnelo de Queiroz, dos Esportes, também não foi convincente nas explicações sobre verbas e despesas pagas pelo COB e denunciadas pela Folha de S. Paulo. O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini se indispôs com os aposentados com mais de 90 anos ao suspender o pagamento de aposentadorias legítimas. Voltou atrás e pediu desculpas. A Reforma da Previdência já aprovada pelo Senado vai resolver apenas problemas de caixa, além de ter retirado direitos dos trabalhadores no serviço público. Observa-se que a Rede Globo está exultante. Seus apresentadores se desdobram para mostrar uma agenda positiva do presidente Lula. Até agora, esforço em vão.
Em São Paulo, a prefeita Marta Suplicy (PT) vai na contramão da ética e da decência ao criar cargos sem concurso público (pode chegar a 915), desrespeitando a Constituição Federal. Alguns Tribunais ( Tribunal de Alçada Civil, Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, Tribunal de Justiça, Tribunal Regional Federal da 3ª Região) abrem concurso e só conseguem oferecer, no máximo, de 50 a 60 vagas, embora o quadro de funcionários esteja defasado há muito tempo. É mister que o Ministério Público tome as providências cabíveis para evitar este descalabro da administração do PT na Prefeitura de S. Paulo.
Enquanto isso, o presidente Lula, ainda em clima de comício, afirma: “Não tenho dúvidas de que, depois de perder três eleições e de ganhar, a gente não pode decepcionar esses milhões e milhões de brasileiros.” Será que o presidente Lula ignora os fatos ocorridos no primeiro ano do seu governo ? A decepção já foi instalada logo no início do governo, com a adoção da política recessiva do PSDB e a subserviência ao FMI. O PT, ao invés de cuidar da expulsão dos chamados “rebeldes”, acusados de indisciplina partidária por estarem defendendo as idéias do antigo PT, deveria averiguar, investigar, isto sim, as denúncias contra seus ministros e membros que vêm pipocando na imprensa, quase que, diariamente. A decepção, portanto, não é restrita aos eleitores do PT, mas de todos que comungavam o sonho de um Brasil decente, justo e humano. Todos estamos perplexos e decepcionados. Ainda não foi desta vez, Brasil.
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