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cronicas-->EU TAMBÉM SOU I-RESPONSÁVEL -- 29/09/2018 - 17:53 (Cida Piussi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Estou cansada de ouvir " conselhos " promissores sobre o quê, quem ou como eu deveria ou devo proceder.
Há uma mulher em mim que sabe exatamente o que não quer... o que quer, quem é que sabe ? As pessoas tem metas, objetivos, traçam suas vidas buscando algo que as tornem mais importantes,que as façam sentir-se mais participativas, mais parte desse mundo GLOBALIZADO, cheio de livros de autoajuda, com títulos mais ou menos com estes dizeres " como pais inteligentes podem ser modelos para os filhos ", de" como ganhar 1 milhão em 10, 20, 30 anos"...etc. Só se leem best-sellers impulsionando a uma busca incessante de meios de progredir.
"Estou farto do lirismo comedido...",já diria o nosso Andrade, nos idos de 20. Sabia ele, sim, do que estava falando. Corre-se atrás de fórmulas perfeitas, do trabalho perfeito, do profissional do ano, da modelo uber e encontram-se apenas uns cinco (?) por cento da população com acesso a tais regalias. Máquinas de fazer o mundo girar incessan- temente.
Não,não sou contra essa civilização moderna. Eu vivo nela, a usu-fruo, não totalmente por meios que eu provi, mas que certamente colabo-rei intensamente,em mais de meio século de vida para que se consolidas-se.
Estou mais feliz com a vida que tenho? Não sei dizer. E se alguém ler o que escrevo, vai saber que minhas mazelas podem descolorir o dia. Mas são minhas. E, talvez, de muitas mulheres e homens que, por medo de se sentirem fracassados, escondem-se atrás de máscaras e enfrentam horas de terapia e caixas de tarja preta, vermelha, agora, até amarela para darem conta de tudo o que a sociedade moderna, civilizada, globali-zada exige.
Até Jesus Cristo que foi estigmatizado, hoje, encontra-se mercanti-lizado.
Deixem-me ser o que sou. Com meus gritos internos, minhas feridas abertas, meu sangue latejando. Sentindo a dor das mortes violentas, dos estupores causados pela queda de um avião, pelo menino destroçado por um carro, na grande metrópole, pois teve o azar de estar em dia, em hora e em local errado.
Deem-me a chance de confrontar as desigualdades,as diversidades, de fazer algo para que daqui a cinco(?)bilhões de anos, quando nosso Sol se apagar,ainda haja possibilidade de manter a vida aqui na Terra. Sim, pois está cientificamente comprovado que é isso que vai acontecer.
Que dizer da miséria que empurra um casal para dentro de um cano de esgoto, sobrevivência última, que pode levar a perder a guarda da criança? Mas, esta criança, tem pai e mãe. E as outras? E aquelas que só têm um macho ou uma fêmea como modelo e às vezes nem isso? Onde está esse mundo de arranha-céus que não cede um quinhão à educação?
Adquirir, conglomerar, tornar-se a empresa mais forte do mundo.
Joint-ventures? Traduzam-me. Para mim, significa esse amontoado de apenados, encurralados como animais indo ao matadouro. E,de lá,tramando construindo o seu próprio império à margem do que se tornou o modelo de tudo. Quem nada tem a perder, vai se preocupar com o quê? Tornar-se um fiel seguidor dos Dez Mandamentos ou alguma Lei desenhada por engrava- tados, a maioria ignorante, analfabeta, nem sempre literalmente, das causas que levam à destruição,ou sendo mais específica,que nunca foram apresentados ao mundo real?
Mundo real!
Digam-me senhores do conhecimento,legitimados ou não por diplomas, pós-graduações, PHDs, MBAs, senhores filósofos, psicólogos, doutos da ciência e do saber o que entendem por Paraíso, por Terra-Prometida, por igualdade social,por EDUCAÇÃO e SAÚDE para todos? E, você também, que sai todo dia de casa para o trabalho, cumprindo as tarefas do melhor modo possível,engolindo o medo de que o seu emprego seja abocanhado por algum colega que se apressou em chegar mais cedo ou descobriu a maneira menos dispendiosa de trazer mais ganhos ao senhor do seu destino, sim, porque o empregador, hoje é o nosso dono. Contrata e demite com a mesma velocidade de um vídeo de sexo com a modelo mais que falada, circulando pela internet.
Este é o nosso tempo, esta a nossa história, este é nosso preço. E,não tentem convencer-me de que não temos um. Nós nos vendemos a cada dia, a cada segundo, a cada momento em que nos travestimos para o modelo que precisamos apresentar ao público.
Hoje se mapeia DNA.
Descobrem-se possíveis genes que poderiam tornar este ou aquele indivíduo propenso a um determinado comportamento. Assim, por que não aproveitar a ciência para purificar a espécie?
Bem, lamento entender que só teriam acesso a este procedimento, onde ciência e seus detentores do conhecimento ousam brincar de deus, aquela parcela ínfima da população que beira a quantos bilhões mesmo? Não sei, muda a cada instante. Porque esses são os bem-aventurados, os que recebem três refeições ao dia (mínimo) tem casa, educação, saúde, água. E,ainda assim, dentro deste contexto, haveria os que desafiariam todo e qualquer prognóstico de virem a se tornar pessoas de bem.
Eu sou uma "pessoa de bem ". Como você sabe? Como você sabe que eu não cometo crimes, que não burlo regras, que não desrespeito as leis ditadas por políticos cuja intenção é,dizem eles,manter a ordem social?
Não, você não tem como saber, pois meus crimes são fortuitos, bàs sombras, escondidos atrás de janelas e cortinas que não virão a público.
Não, não estou esmolando nas sinaleiras, não estou nas filas do SUS, não estou arrastando crianças penduradas em carros, mas meu instin-to é de gritar, vociferar, dizer que muita coisa aqui dentro dói e que não vejo saída.
Todos aconselham, todos têm uma fórmula para que os meus problemas se resolvam. Basta EU querer. Basta eu me empenhar. Basta aproveitar este potencial que existe em mim ( rsss ) e tudo pode ser diferente.
BASTA! Chega de hipocrisia. Somos seres irracionais, na medida em que, ao invés de sermos solidários com os problemas alheios e prover condições ao próximo para que tenha oportunidades de forma igualitária, agimos como canibais ao olharmos só para o nosso umbigo.
Jogue a primeira pedra quem, ao se deparar com o "bastardo" recém-nascido e para a miserável mãe à espera de um mísero centavo, não teve a intenção de recriminá-la, ou mesmo o fez, por trazer ao mundo mais esse `futuro´ sem futuro algum.
Se sou dona do conhecimento e se tive acesso a tais e tais benes-ses, minha obrigação é compartir. Mas não faço isso. Muitos fazem, sei disso. Muitas pessoas doam verdadeiras fortunas para a melhoria do mundo. Muitos doam seu tempo. ONGS proliferam. Mas, a cada dia, mais guerras,mais desastres ecológicos mais mortes,crimes aparentemente sem sentido.
Aí, eu me questiono: Por que não tem dado certo? Por que os anos passam e a tranquilidade de deitar na grama à noite, no meu vilarejo escuro, apreciar as estrelas, adivinhar quem poderia estar me observan-do lá de cima se tornou tão distante e ao mesmo tempo tão assustadora? Porque todos nós sabemos que a nossa vida está sendo vasculhada, milimé-tricamente, por meios criados aqui mesmo pelos nossos parceiros. Não se dá um passo sem que um olho mágico, globalizado, direcionado nos persi-ga.
Somos reféns de nós mesmos. E,como todos os que têm medo,a profecia está sendo cumprida.
Muitos vão querer entrar, poucos passarão. E isso foi dito há mais de 2000 anos.
Deixem-me no meu canto, há mais gente precisando de socorro.
Eu tenho um jeito de me livrar da dor. Mas quantos podem dizer o mesmo?

Cida Piussi/
(1702/2007)
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