INIMIGOS NÃO DECLARADOS
Francisco Miguel de Moura*
Diz-se que o pior inimigo é o que está dentro de nós. Não sei. Falemos de outro tipo, aquele que se nos apresenta na vida comum como amigo, demonstra o que não é nem pode ser. Aonde vai, qual um demônio, emporcalha as vistas dos que lhe passam pelo caminho. Falso amigo, ilude, inveja, morre de ódio de ver a felicidade do outro, só pensa em trair, fazer maldades, levar a melhor. Para tanto não mede esforços – desde que debaixo de sete capas, como diria mamãe – na escuridão da noite, com todos os subterfúgios possíveis e impossíveis, embora apareça como bom e honesto, e até mesmo capaz de sacrifícios.
Já os amigos-amigos, mesmo quando longe um do outro, é como se estivessem presentes. Para os amigos não há distância, já escrevi de outras vezes. Agora confirmo. Quem é amigo não precisa estar afirmando a amizade a toda hora. Nem demonstrando. É-o sempre, especialmente nas horas mais difíceis, às vezes anonimamente.
Do inimigo-amigo (ou o pior amigo) não há momento em que você possa livrar-se. Anda no seu pé, vendo o que você faz, o que você come e veste, o que você pensa, quer e diz, e ainda tenta adivinhar seus desejos. E você, coitadinho, desarmado, à busca de comunicar-se, pode soltar uma verdade que interessa ao patife: um lance de confissão ao alcance de qualquer platéia. Todas as confissões são ansiadas pelo tipo. Quando menos você espera, vem o estouro. A bomba armada detona.
Você sofre, ele goza por dentro de si, num gozo demoníaco. Sofre-se, não pelo mal, mas pela traição. Nada pior do que ser traído, agarrado na sua boa fé, na sua bondade – desprotegido. Às vezes a palavra ou o ato é uma insignificância. Porém os maus são mesquinhos, egoístas, orgulhosos, terríveis.
Quando um mau deixou de ter mau caráter, afastou-se do seu caminho de maldades? Nunca. Mesmo que deixe, ninguém acredita. É como o mentiroso.
Afasta-te dos maus, como diz a Bíblia. Se andares com eles, tu serás tomado por mau. E daí, até que proves o contrário, é difícil.
Ser bom é ser alegre, confiante, puro, às vezes confundido com os tolos. Já disse Humberto de Campos: O sorriso é a melhor demonstração de bondade.”
Mas é preciso conhecer todos os sorrisos: os de secretárias e os de sectários, os de amigos e amigas, os de inimigos declarados e os de inimigos ocultos. Há deles que são fatais como o da hiena.
Sê confiante e puro, repito. E também sábio. Faz parte da bondade.
Por isto é que temos poucos amigos. Quase nada. Se se for contar nos dedos, sobram dedos. Mas, bendito quem tem um amigo. Um amigo salva. Dois já seriam um paraíso.
É preciso ser sábio e aceitar os inimigos, declarados ou não. É assim a humanidade. Uma tristeza, mas é como ela é, e com ela que temos que conviver os dias de nossa vida, perdoando a todos. Somos filhos de Deus, irmãos em Cristo, cristãos portanto. E esse homem sobrenatural foi o pregador do amor e do perdão. Perdoa tu os teus inimigos, mas deles te afasta para não acontecer que sejas traído, iludido, novamente, e vivas como um tolo.
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*Francisco Miguel de Moura poeta e mora em Teresina
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