COMO NASCIAM OS BEBÊS
Eu nasci na maternidade, mas até então as mulheres davam a luz em casa. Uma parteira, senhora experiente nesse tipo de serviço, era chamada para ajudar as mulheres da família. Da cozinha vinham bacias de água fervente, muitas toalhas passavam de lá para cá, de mão em mão.
A mulherada ficava horas trancada no quarto. De fora, só se ouvia sussurros e gemidos. Na sala os homens conversavam, fumavam e tentavam acalmar o pai da criança.
Num dado momento a mãe berrava e todo mundo gelava. Logo em seguida, ouvia-se o chorinho do bebê e a felicidade reinava.
Nascida a criança, tratavam de vesti-la muito bem. Fralda de pano macio, camisa de pagão, casaquinho e sapatinhos de tricô. Depois enrolavam o bebê, do peito aos pés, no cueiro de flanela. E por cima de tudo, mais uma vez enroladinho ele ficava no xale de lã. Sem esquecer da touquinha pra aquecer a cabecinha. Se fosse menino, usava tudo azul. O enxoval das meninas era sempre cor-de-rosa.
Mãe e filho permaneciam no quarto por quarenta dias. Durante esse tempo – a quarentena – a mãe não saía da cama e se alimentava de caldinhos especiais. Ali mesmo recebia visitas e amamentava seu bebê.
Do lado de fora, o pai atordoado era ajudado por vovós e titias a cuidar de tudo, inclusive das outras crianças, sempre endiabradas, e agora, mais do que enciumadas.
Beatriz Cruz
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