Usina de Letras
Usina de Letras
20 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62299 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22541)

Discursos (3239)

Ensaios - (10395)

Erótico (13575)

Frases (50690)

Humor (20042)

Infantil (5463)

Infanto Juvenil (4786)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140827)

Redação (3311)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6215)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->7. LOROTA MAL CONTADA -- 15/07/2001 - 07:26 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Meus pais sempre quiseram que eu fosse verdadeiro em tudo que fizesse. Todavia, para ensinarem-me a não mentir, deram-me memoráveis surras, a ponto de me fazerem perder o fólego. Foi assim que acabei por aprender a mentir com perfeição, pois muitos segredos de conduta estava impedido de contar, por julgar que eram bem mais condenáveis que a mentira. Se me descobrissem mentindo, apanharia pelos dois procedimentos; se não me apanhassem, estava duplamente salvo.

Foi com essa idéia que cresci e me apresentei ao mundo e ao mercado de trabalho. Se não fui totalmente feliz em todos os empreendimentos, pelo menos consegui progredir na vida, a ponto de constituir sólida família, sem qualquer problema financeiro.

Se disser que eduquei os filhos de modo perfeito, irei exagerar muitíssimo, mas fiz questão de evitar que sofressem as mesmas vergonhas pelas quais passei, chegando a enganar os meus pais, dizendo que havia adotado o sistema que empregaram comigo e com meus irmãos.

Se fosse até aí a consequência do aprendizado infantil, as coisas morreriam e não haveria motivo para recordá-las. Entretanto, devo dizer que o hábito antigo ficou profundamente arraigado na personalidade, tanto que, em matéria de religião, pensei ser possível aplicar o mesmo sistema das mentiras de conveniência.

Foi assim que demonstrei arrependimento perante os sacerdotes no confessionário, esquecido de que haveria olhos e ouvidos bem mais atentos: a própria consciência.

Obtido o perdão dos pecados - entre os quais incluía o da mentira, subliminarmente aplicada no próprio ato da confissão - deixava o ambiente sagrado do templo, para repetir tudo de novo.

A bem dizer, viciei-me com a mentira, fazendo dela o salvo-conduto para ingressar no Céu, tantas foram as vezes que alcancei o perdão de Deus, através de seus ministros.

Se me tivesse deixado seduzir pelo Espiritismo, teria ficado bem evidenciada a sutileza da hipocrisia, mas fugi das reuniões mediúnicas como o diabo da cruz, embora fosse convidado insistentemente por diversos colegas de trabalho.

Houve um dia especialíssimo, quando me dispus a acompanhar o chefe, na crença de que, através desse tipo de bajulação, iria conseguir melhor colocação na empresa.

Quando interrogado a respeito do que havia presenciado, descaradamente menti, afirmando que, se tudo fosse sempre tão harmonioso e significativo, iria esquecer o Catolicismo, levando a família toda às aulas e preleções evangélicas do centro.

Não contava com a veracidade das comunicações, de sorte que acabei sendo discretamente desmascarado pela entidade protetora, em comunicação reservada ao chefe. Preveniram-no para não cometer a injustiça de destinar o cargo melhor ao pior dotado, ao mais malicioso, ao mais perverso moralmente.

Fui alertado com sutileza para os artifícios e mantido no posto. No entanto, o chefe prosseguiu oferecendo o apoio dos mentores do centro, tendo eu me recusado, sistematicamente, a voltar lá, desconfiado de que havia quem fosse capaz de evidenciar todos os golpes.

Foi o pior ato da vida, talvez com a ajuda de algum obsessor a quem de há muito perdoei, pois quem estivera sempre errado fora eu mesmo. Inclusive, após meditar por alguns anos no Umbral, cheguei à conclusão de que deveria aliviar a sobrecarga energética negativa que enviava contra meus pais, perdoando-os pela ignorància santa que me obrigara a manter as mentiras.

Se os amigos tiverem paciência, poderei prosseguir mais um pouco, fazendo referência a outros senões da personalidade, diretamente vinculados à mentira.

Fui desonesto nas contas, traí a confiança da mulher, não dei todas as informações de vida aos filhos, distorci a realidade para os netos, tentei enganar os irmãos em questões de herança e de negócios familiares, fui arrogante e áspero em relação aos subalternos e terminei por acusar o Pai de injusto, por me não ter oferecido as melhores condições existenciais ao regressar à espiritualidade.

Fiz questão de enunciar esses defeitos, para que se não pense que estive sofrendo no Umbral por ter desafiado a argúcia dos orientadores espirituais do centro.

Mas, se estive determinado tempo na escuridão, certamente bem maior teria sido se não fossem os rogos dos companheiros de trabalho, que me assistiram os últimos momentos, vítima que fui de insidiosa moléstia pulmonar.

Durante a lenta deterioração física, pude compreender alguns conceitos básicos do Espiritismo, ao mesmo tempo que recebi a sacrossanta hóstia administrada pelo padre orientador de minha esposa, o qual soube cativá-la para o perdão às minhas faltas.

Ajuda amiga, portanto, não me faltou, talvez por ter auxiliado irmãos necessitados de dinheiro, pois, nesse aspecto, não era assim mesquinho.

Em suma, para quem viveu tão alienado da realidade evangélica, até que as consequências não foram tão desagradáveis, tendo-me valido, principalmente, o fato de ter mantido a família unida e fortemente amparada.

Há contradições, sim, no que escrevi, mas foram contradições da vida, não da descrição dela. Se pudesse retornar ao campo terreno, iria fazer algumas coisas de forma bem diferente, a principiar por tentar eliminar completamente as lorotas que tão cedo aprendi a contar.

Como não sei tirar conclusões muito sábias dos acontecimentos, simplesmente devo advertir, para os amigos enxergarem nas próprias vidas os reflexos das falcatruas que cometem, mesmo que impelidos por conveniências ou constrangimentos sociais. Lembrem-se de que existem espíritos protetores atentos e não se esqueçam de que, acima deles, está, sempre vigilante, a consciência.

Honorato.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui