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Cronicas-->O Ajantarado -- 15/07/2001 - 00:14 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Ajantarado

Ainda sinto o aroma da cozinha dos idos de 1950. Fecho os olhos e imagino a grande mesa repleta de iguarias e rodeada dos membros de minha grande família.
De segunda-feira a sábado havia almoço e jantar, com a boa comida de sempre, preparada cuidadosamente por nossas dedicadas cozinheiras, sob a supervisão de minha mãe.
Era aos domingos, contudo, que tínhamos o ajantarado, "refeição farta e substanciosa, servida, em certos dias, um tanto depois da hora habitual do almoço, com o fim de suprimir o jantar", segundo Aurélio Buarque de Holanda.
Então, a empregada acordava cedo para não deixar os da casa na mão e ia direto para a cozinha acender o primeiro fogo, com gravetos e palha, no imponente fogão de lenha de nossa casa, também aquecedor da água das torneiras e chuveiros.
No tempo de chuva, era um sofrimento trabalhar no fogão, pois a lenha úmida demorava a queimar. A pobre da cozinheira soprava, abanava, esfregava os olhos atingidos pela fumaça e nada do fogo. Era um alívio quando a labareda subia.
Ao mesmo tempo em que preparava o café, a nossa auxiliar iniciava os preparativos para o esperado ajantarado, enquanto um gato ou um cachorro observava com curiosidade os seus movimentos, na expectativa de um pedaço de carne que viesse amainar a sua fome.
Alimento indispensável nessa ocasião era o tutu de feijão, talvez o mais mineiro dos pratos. Era utilizado no seu preparo o feijão mulatinho (o preto também era usado algumas vezes), que, depois de cozido, era engrossado com farinha de mandioca ou de milho e servido com torresmos, linguiça ou com ovos cozidos e cortados em rodelas.
A macarronada, ou simplesmente o talharim, era frequente nos ajantarados caseiros dos domingos, o que guardava consonància com as origens italianas de minha família. Sempre era acompanhada do queijo parmesão ralado.
Não podia faltar nessas refeições uma boa carne de boi, geralmente os bifes, não o "filet mignon" - alto, sangrento ou mal passado - preferido pelos ingleses e norte-americanos, mas aquele pequeno, batido e bem passado, extraído da alcatra, do patinho ou da chã-de-dentro. Alternativamente, havia o pernil de porco ou uma galinha ensopada ou ao molho pardo.
Batatas, farofa, pastéis e uma boa salada acompanhavam os pratos, não se utilizando nos ajantarados alguns alimentos comuns nos outros dias, como o angu, a couve picadinha, a carne seca, o chouriço, a farinha de mandioca e o feijão.
O arroz de forno substituía nesses dias o arroz branco tradicional, sendo preparado com gemas previamente batidas, queijo parmesão ralado, pedaços de azeitonas e um pouco de manteiga. Era coberto com ovos batidos e farinha de rosca, antes de ser levado ao forno moderado, onde ficava até a obtenção de coloração dourada.
No ajantarado não podia faltar o vinho tinto, bebida dos deuses. Não se pode esquecer que o primeiro milagre de Cristo foi a transformação de água em vinho nas bodas de Canaã, para que fossem alegrados os corações dos convidados. Em nossa casa o seu consumo era, também, um resquício dos hábitos de nossos antepassados italianos.
As sobremesas, então, eram mais trabalhadas, geralmente pudins ou rocamboles, no lugar dos doces dos outros dias.
Era no ajantarado que conseguíamos reunir toda a nossa numerosa família, inclusive os irmãos que estudavam em colégios internos das cidades vizinhas e passavam o fim de semana em Recreio. Havia necessidade, para isso, de aumentarmos a mesa de jantar, que possuía dispositivos que permitiam a colocação de peças complementares que lhe davam o tamanho exigido para a ocasião.
Resta-me a lembrança desse tempo alegre e descontraído e de meu saudoso pai que, com a satisfação de ter a família ao seu lado, mastigava com prazer, como nós outros, os deliciosos alimentos colocados à nossa disposição.
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