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Cartas-->Eu não lhe disse adeus -- 05/12/2010 - 11:13 (Juliana Mendes Velludo Guidi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dona Dulce, sinto a sua falta. A senhora me trouxe um certo alívio quando veio me visitar logo após sua partida. Eu queria ter ido ao hospital, mas o doutor Otávio não deixou, disse que era melhor não, devido ao meu resfriado. E o João me pediu que esperássemos a senhora voltar para casa, assim o Carlo poderia ir vê-la... Mas a senhora não voltou. Ai! Como lateja em minha alma não ter lhe visto mais uma vez. A última vez. Era nesse dia que eu iria falar o quanto eu gosto da senhora. Sei que vivia lhe dizendo isso, mas eu precisava dizer um tchau com as palavras de amor que todos merecem ouvir antes de deixar esse mundo cão(como a senhora dizia).
Quando o João me disse que a senhora não estava bem, desanimado daquele jeito, eu entrei em desespero... Antes de conseguir dormir, já de madrugada, sozinha no meu quarto, eu disse em voz alta: nós te amamos, dona Dulce. A senhora ouviu? Acredito, quero acreditar que sim. Sei que agora escrevo como se fosse me ler, mas há quem diga que depois da morte nada fica além das lembranças. Eu não quero pensar nisso. É extremamente triste. Não devemos simplesmente desaparecer. Não! Precisamos continuar em algum lugar, no qual tenhamos paz e vivamos em harmonia. Falando em harmonia, estou tentando aproximar seus filhos quando nos encontramos nas festas. Sento-me à mesa do tio Maurício e procuro enlaçar as famílias que foram separadas pela mediocridade humana. É difícil. Sei o quanto sofreu com esses filhos apartados. Chorei tudo isso quando soube que a senhora não estava mais aqui. Lembrava-me das nossas confidências e chorava feito uma criança desamparada.
O João, que tanto te ama, e que tanto te viveu, foi à sua casa depois de quatro dias. Ele encontrou, assim que abriu o portão, as tristes goiabas caídas ao chão, elas se perguntavam por que a senhora ainda não as tinha retirado de lá. Anunciavam sua ausência e faziam o seu neto chorar(ele, que quase não chora). E por falar em choro, como sofreu e sofre o Carlinhos. Contei que me perguntou dele no sonho. Ele está te esperando. A senhora não vai visitá-lo? O tio Maurício a senhora já visitou. Ah! A senhora me perguntou se o João está se alimentando direito. Ele está sim, mas morre de saudade da sua insubstituível comidinha. Eu também. E o Carlo quer saber quem é que vai fazer torresmo para ele agora.
Ai! Lembrei-me daquela minha separação conjugal, em julho desse ano, o João disse que moraria contigo por um tempo e a senhora me fez inúmeros elogios o colocando para fora rsrsr... E quando soube que eu queria mesmo me separar, a senhora me disse: deixa de ser boba, ruim por ruim, fica com ele rsrs... Sinto muito a sua falta!
Saber que se identificava comigo me lisonjeia. Sempre a considerei uma rainha. Já lhe disse isso tantas vezes. Minha afinidade contigo é maior do que a afinidade que tenho com as minhas avós(que elas nunca leiam isso, vai rolar um ciúme violento). Mas sou sincera.
Soube que no hospital a senhora disse pela milésima vez que o Carlo foi o único que nasceu com os seus olhos. Como sentia orgulho disso...
Saiba que quando olhamos para ele é automático pensarmos na senhora. Seus olhos estão ali naquele rostinho. E foram esses olhos que eu vi, pela primeira vez, sentir a dor de uma partida. A partida da sua bisavó querida.

Nós te amamos, dona Dulce. Até um dia.
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