----- Quadra decassílaba glosada
----- Em décima exposta e arrumada
----- Com boa fé d intenção dedicada
----- Aos que primam em fazer Cordel
----- Sob a escola do verso popular
----- E de corpo em alma salutar
----- Dão a todos entre todos um lugar
----- Com suor da vida a pingar mel.
------ A ARTE DE BEM CORDELEAR A TODA A TECLA ----
Quem bem saiba da arte de rimar
E observa a métrica a rigor
Por gosto de fazer ou por amor
Pede e deverá cordelear.
É claro que terá de tolerar
Todos quantos mal ou menos bem
Pretendam versejar e pôr também
Seus versos humildes sempre a par
Dos que em boa fama já navegam
Ou apenas e tão só desabafar
Do saco de penas que carregam
Mágoas dos amores banais da vida
E quem há-de então dar-lhes guarida?
Quem bem saiba da arte de rimar.
Não se atreva nunca a censurar
Aqueles que procuram aprender
Mas não querem dar a perceber
O que ainda não sabem apurar
Mas tão pouco presumem demonstrar
Mesquinhez e vaidade por louvor
Pois Cordel que se faça com primor
Solicita rebuscada experiência
Por quem se lhe dá com paciência
E observa a métrica a rigor.
Se porventura tiver esplendor
Genuína inspiração e poesia
O Cordel enriquece e desafia
Os incautos que lhe negam o valor
Com opróbrio voraz que só inveja
Sob a capa do embuste sabedor
Aquilo que não pode mas deseja
Por reconhecer sábio o papel
Daqueles que militam no Cordel
Por gosto de fazer ou por amor.
Oh... Amantíssima Musa em Flor
Divina e dilecta comopanheira
Do estro sublime és a braseira
Que aqueces com bom senso e pudor
Acendendo a chama tutelar
No peito do arauto trovador
Que há-de com denodo espalhar
A luz da ternura ao mundo novo
E por mando do coração do povo
Pode e deverá cordelear.
---------------- Torre da Guia -------------------