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Cronicas-->Silêncio da Carne -- 28/06/2018 - 15:05 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O aroma penetrante de carne assada fazia nossas línguas estalarem. Que me perdoem os vegetarianos, mas a carne balança as papilas gustativas. Eu, justo eu falar disso em época de tal conservadorismo e pejo diante de tais atos espúrios--no caso, a matança que precede a orgia--não resistia e seguia os vapores à sua origem, passando pelos caminhos da treva e da tranquilidade, num passo ritmado que afundava meus passos nas alamedas tristes e silenciosas.

O ruído de um piado lúgubre me espicaçou os nervos, afinal, não é todo dia que se faz um churrasco no cemitério. O mapa diz, dobre na primeira asa de anjo à direita, siga o rosto aterrorizado à esquerda e pare diante das lágrimas da mãe comovida e leia a placa.

--"Aqui jaz minha esposa amantíssima, mãe e filha idolatrada, anjo celestial..."

...E siga a flàmula em frente, passando pelos campos desnudos dos desvalidos da guerra.

Ah, lá está o churrasco: Todos em silêncio absoluto, afinal, sabem a língua das libras e todos numa algazarra infernal de dedos e gestos e sorrisos e expressões, o único barulho que se ouve é o tostar da carne na brasa, bem encostada ao canto do muro do lado mais triste do campo da paz eterna.

--Roberval!!! Finalmente!!!
--Olhem ele aí!!! Viva!!!!!

E em silêncio nos saudamos como num filme louco, com os sinais de libras em profusão e minha namorada que já me esperava há séculos está bem ali, encostada num túmulo de granito negro, sorrindo e bebendo sua cerveja em goles silentes, olhos marotos e recriminando vivamente minha demora...

--Pode-se saber aonde estava?
--...Dormi. Quando acordei, pus minha roupa e vim direto.
--Dorminhoco!!!!!

O comandante da chapa assava seus acepipes e girava linguiças, filés de frango, queijo coalho e sangrentos retalhos com a maestria dos mestres-carneiros. Dir-se-ia argentino, pelo tamanho das suíças, mas nem platense era, era cearense.

--Vamos comer, que a hora já avança e a vida passa, vejam o que nos resta...

E com o queixo apontava aos lacrimosos, às palmas estendidas e eternizadas aos céus, aos pinheiros e álamos, às folhas secas em revoadas na pedraria da rua do silêncio...

Em silêncio, beijei minha namorada, olhos brilhantes de amor e tesão.

Erguemos um brinde à vida e desafiamos a escuridão que avançava, metro a metro, engolfando as estradas esquecidas do passado e o sonho contínuo do mar de mortos queridos. Gesticulando, cantava em mudas notas nosso menestrel das flores, como o chamávamos, e sua voz muda se fazia ouvir na Lua que despontava no céu seco de Junho.

Na certa, teríamos mais um Inverno rigoroso.
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