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Artigos-->Quando Não Havia Motéis!... -- 05/12/2003 - 21:25 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Quando Não Havia Motéis

(Respondendo ao Amigo Raymundo Silveira)





Sem pretender estabelecer polêmica em torno do tema aqui abordado - diga-se, de passagem, com bom humor e inteligência – atenho-me ao restrito campo das idéias para comentar as argumentações insertas no artigo intitulado “E Quando Não Havia Motéis”, do nosso amigo Raymundo.



Na década de 50, que ficou conhecida como “Anos Dourados”, adentrando pelos anos sessenta e começo da década de setenta, não havia, evidentemente, os motéis. .Mas, ao contrário da preliminar do artigo, a ausência deste “ninho moderno de amor”, não se constituía, por si só, motivo de pelo menos na proporção sugerida no artigo em comento.



Por isso mesmo, o fusquinha não poderia ser invocado para prestar testemunho a favor do citado sufoco.. Até porque, se o fusca falasse, iríamos ter surpresas inimagináveis; que não lembrariam, por certo, a idéia de “aperto” ou “sufoco”.



Afigura-se-me, portanto, enganosa, a idéia do cearense, o Dr. Raymundo, quando estabelece o comparativo entre o presente e o passado; entre alcovas e encontros amorosos daqueles idos, e as piscinas aquecidas, as camas arredondadas e a fartura de espelhos côncavos e convexos, envolvido num ambiente de luzes e cores sob a musicalidade, até certo tempo muito em voga, do rei Roberto Carlos. A conclusão enganosa é a de que a balança da relação custo/benefício penderia, em termos de desejos e qualidade do empreendimento amorosos, para o lado direito.



Por isso, refazendo a leitura do custo/benefício, entendo que a tendência estaria mais para o lado esquerdo; isto é, o lado masculino por excelência; para onde o ator principal deste tema é sempre colocado quando em posição de descanso. O lado, político e sexualmente correto, para ser mais contundente.



Minhas argumentações, incluindo concordâncias e discordâncias, partem das mesmas fontes de onde foram geradas as argumentações do eminente ginecologista.



Primeiro, apelidar o motel de “paraíso” ou local de “gozos celestiais” , sem beatices ingênuas de minha parte, é, no mínimo, o que chamaria de heresia literária metafórica; posto que estaríamos usando a palavra amor, na acepção ampla do termo, ao invés de sua forma limitada; portanto, a palavra amor, no caso, foi utilizada na acepção incorreta do termo. O amor do paraíso, tanto quanto o amor celestial, não se confundem com o amor físico, que é, por excelência, de ordem tão-somente sexual e reprodutiva.



A ausência absoluta de motéis, -tem razão o amigo-, guarda elo causal com uma série de efeitos colaterais como foi dito: “susto, suborno, estresse, surpresa, expectativa, tremores, medo...”. A bem da verdade, todos aqueles sintomas nunca foram suficientes para deflagrar o indesejável neologismo da “broxura”. Principalmente pelo contexto cultural da época, onde qualquer pedaço de joelho - feminino, claro - era mais do que suficiente para despertar o fogo e o desejo da paixão; não havia interesse de nenhum pesquisador científico em tentar descobrir o “viagra”, pois não havia consumidores em quantidade suficiente para justificar os custos do empreendimento.



Concordo, também, com as dificuldades para levar alguém para um hotel, dito familiar. Mas, com reservas. Não sei em Fortaleza/ mas, e também tenho os meus “mas, no Rio, onde morei por mais de trinta anos, resolvemos a questão de maneira muito “maneira”.



Nosso grupo de amizade, entre irmãos e amigos mais chegados ( companheiros de bailes, de praias, de blocos de carnaval de rua, de jornadas alcoólicas, movidas a violão, bandolim e pandeiro) pertencíamos á uma classe média baixa, que supera, nos dias de hoje, a classe média alta; por razões de ordem econômica, bem mais vantajosas do que a dos dias atuais.



Desse modo, era muito fácil alugar um apartamento. Começávamos a trabalhar, com carteira assinada, aos quatorze anos. Aos dezoito ou vinte e poucos anos, já tínhamos uma certa independência financeira. Portanto, nosso motel era muito melhor do que os motéis de hoje. Apesar da não dispor de alguns “confortos” de ordem tecnológica.



Mas tínhamos o clima do romance. Nossos discos de bolero, samba-canção e as músicas ditas “dor-de-cotovelo”, que aliviavam qualquer coração. Com um detalhe: não usávamos drogas. Maconha era coisa muito rara entre os jovens. Não usávamos camisinha. Não havia o perigo da AIDS. E outras doenças, sexualmente transmissíveis, eram raras. Restritas a certos ambientes (zona) aos quais nunca comparecíamos.



Nossas namoradas, e as mulheres de “programa”, que levávamos para o apartamento, eram mulheres de “primeira”: universitárias que trabalhavam, à noite, em boates, por prazer ou por necessidade, e que sabiam se cuidar.



Naquela época, não se fazia sexo com hora marcada; com mesa posta; simplesmente para “afogar e desafogar o ganso”, a preços módicos; como se o sexo fosse um fastidioso exercício de bota e tira; um garimpo sem pepitas; sem pedras de valor. Sem um mínimo de envolvimento entre o casal.



Saudosismo? Pode até ser. Mas eu prefiro dizer que seria mais uma leitura diferente. De uma época em que a simplicidade, e a quase ingenuidade, como um dosado respeito pelo nosso semelhante, eram os temperos que davam o gosto e o paladar à juventude.



Finalmente, e respondendo a última pergunta: NÃO. O tesão de hoje é maníaco-depressivo. Em alguns casos, movido pela ação danosa das drogas; em outros, pela carência afetiva e a necessidade de auto-afirmação. Os estupros comprovam o que digo. Hoje, grande parte da população passa fome. Fome de sexo. E não aprendeu ainda a se alimentar. E come mal. E passa mal.



Nas décadas de 50/60, era diferente. Para melhor. Ninguém tinha a obrigação de fazer sexo pelo sexo. Havia um certo comprometimento. Uma amizade forte. Um amor consentido e com certa dose de responsabilidade mútua. Ninguém “ficava” com ninguém. Todos os amantes sempre estavam: ou enamorados ou apaixonados. Não havia pressa. Nem violência. Não havia medos. Havia muita paciência. Pois ainda sonhávamos. Abraçados. .



05 de dezembro de 2003













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