Mergulhar entre os galhos
[dos arranha-céus,
vazar por entre o nimbo
[desse imenso véu,
e da corda bamba imaginar,
a queda do limpador de vidraças.
Ver o pintor derramar a tinta,
sem a tinta ver o pedreiro
[esfarelar o reboco.
Por que juízo se não
[há tesura na nudez do tijolo,
e o tolo sabe que a luz
[não vem do fio.
Proteger o cio das pombas
[é exagero nenhum,
enquanto agulhas transitam
[deixando linhas vermelhas.
Quantas orelhas
[passeiam perto das janelas,
e os olhos não fazem
[nada igual a elas.
Nódoas negras cá e acolá
[confessam favelas.
Gotículas outras por detrás
[d’outras janelas,
e não há presunção de pecado,
as gotículas em travessuras,
todas burlam as sentinelas.
São os ouvidos da cidade
[com olhos da iniqüidade.
Perplexidade.
AdeGa/97
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