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Cartas-->Carta de despedida do general Belham -- 12/07/2010 - 13:05 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Prezado Amigo

Tendo minha imagem abalada pelos e-mail de três senhoras, viúvas de militares falecidos no terremoto do Haiti, não me manifestei até hoje, porque não esperava que o fato tomasse a proporção que tomou. Agora, como sofri uma tremenda injustiça, por ter sido julgado por versões fantasiosas, distorcidas e até mesmo mentirosas, sem ter tido a oportunidade de apresentar a minha versão, estou enviando este e-mail para que os amigos, que sempre acreditaram em mim e sempre me trataram com respeito e consideração, saibam o que realmente aconteceu.

O Gen José Pordeus MAIA ligou para mim, pedindo que eu recebesse duas viúvas do terremoto ocorrido no Haiti, senhoras EMÍLIA e ANA PAULA, para dar a elas uma orientação quanto a entrarem ou não com uma ação judicial, para receberem o seguro de seus maridos como morte acidental. Marquei a entrevista e, no dia e hora marcados, chegaram três senhoras. Como não tinha como identificá-las, perguntei quem era D. Emília e uma se identificou; perguntei quem era D. Ana Paula e outra se identificou; perguntei, à terceira, quem era ela, tendo a mesma se identificado como a viúva do Gen. Zanin. A resposta me surpreendeu, pois na minha relação de vítimas não havia nenhum general, tendo ela explicado que o mesmo falecera como coronel e fora promovido “post-mortem” a general (é oportuno frizar que, para fins de pagamento do FAM, interressa o posto no momento do sinistro e, por essa razão, não constava da minha relação qualquer general). Aquela foi a única ocasião em que me referi a qualquer posto, durante a entrevista (tanto é verdade que somente tomei conhecimento de que o marido de D. ANA PAULA também fora promovido a general, após ler os e-mail delas).

Dando início à conversa, disse que o Gen MAIA tinha me pedido para dar uma orientação a elas, pois estavam sendo assediadas para entrarem na justiça contra a BRADESCO. Neste instante, fui interrompido com uma afirmativa, “nós não vamos entrar na justiça contra a BRADESCO, mas contra a POUPEX” (isso prova que já tinham decidido entrar na justiça, não importando uma orientação a respeito). Expliquei que a POUPEX, nada tinha a ver com o caso; contestaram-me dizendo que seus maridos tinham feito o seguro com a POUPEX. Eu esclareci que o Seguro FAM é um produto da FHE e não da POUPEX; que é um seguro em grupo ao qual o associado adere, sendo a apólice repassada para um grupo de seguradoras, liderada pela Bradesco; que à seguradora compete pagar ou não o seguro, após análise técnica, e que à FHE compete dizer a quem pagar, em obediência à declaração de beneficiários assinada pelo segurado.

Tentaram, a seguir, me mostrar uns papéis que comprovariam que a morte ocorrida fora por “acidente em serviço”, o que justificaria a ação para o recebimento do seguro por “morte acidental”. Pedi que o assunto, por ser técnico, fosse abordado na Gerência de Seguros, que já estava preparada para recebê-las e onde poderiam ver a apólice do FAM, que desconheciam, bem como apólices de outras seguradoras, com a mesma Cláusula excludente.

Disse que, antes de dar a minha orientação, queria narrar como aconteceram os fatos após aquele trágico sinistro, no qual haviam falecido os seus ex-maridos (que foi o termo menos traumático que me ocorreu, mas que, após ler seus e-mails, percebi ter sido considerado ofensivo por elas).

Contei que, poucos dias após o sinistro, fui convocado pelo Gen Enzo para o seu gabinete (na época, em virtude das férias do Gen Burmann, eu era o presidente em exercício). O Comandante estava preocupado com a situação dos militares envolvidos no terremoto. Respondi que do total de 18, entre mortos e desaparecidos, alguns possuíam Financiamentos Imobiliários, que seriam quitados, alguns possuíam Empréstimos Simples, que também seriam quitados, e todos possuíam FAM e Decessos, o que seria uma tranqüilidade.

Como, percebi que as senhoras estavam tensas e eu não sabia o porquê, decidi contar a elas uma história, tentando desanuviar o ambiente. Disse que, na reunião com o Gen Enzo, o mesmo me pedira para deixar de chamá-lo de senhor, tendo eu falado que ele é que deveria parar de chamar-me de senhor uma vez que ele era o Comandante do Exército, tendo ele dito que não se sentia à vontade, considerando eu ter sido instrutor dele no Colégio Militar do Rio de Janeiro.

Nesse momento, pensei que tivesse conseguido meu intento, uma vez que a viúva do Gen Zanin disse não acreditar que eu fosse tão mais velho que o Gen Enzo, tendo eu afirmado que me formara na AMAN oito anos antes dele.

Continuei a narrativa dos fatos, dizendo que, ao chegar de volta à FHE, o pessoal de seguros me deu a triste notícia de que a apólice do FAM não cobria eventos provocados pela natureza, citando, inclusive, terremoto.

Imediatamente foi decidido que fizéssemos gestões junto à Bradesco, para que a Seguradora pagasse o seguro às viúvas. Também liguei, para o Gen Enzo, informando-o do problema e que nós estamos tentando solucioná-lo.

No início houve reação da Bradesco, pois estaria abrindo um precedente muito perigoso; no entanto, após várias conversas e com a comoção causada pela chegada dos corpos, a Bradesco decidiu efetuar, para cada viúva, o pagamento equivalente ao seguro por morte natural. Liguei para o Gen Enzo, comunicando a situação, tendo o mesmo achado que estaria bem, uma vez que não deveriam receber nada e iriam receber alguma coisa.

Nessa oportunidade, tentaram, outra vez, me convencer de que o certo seria receberem em dobro, tendo eu, mais uma vez, pedido que deixassem esse assunto para ser tratado com o nosso pessoal especializado em seguro.
Concluindo a orientação pedida, voltei a afirmar que não seria uma boa decisão entrar com uma ação contra a Bradesco, porque:
- a chance de vitória seria praticamente nula, uma vez que a apólice não cobria sinistros ocasionados por eventos da natureza;
- a Bradesco agiu com magnanimidade, pagando, em atenção do pedido da FHE, o que não era devido; seria, portanto, uma injustiça contra a seguradora;
- a Bradesco, sentindo-se injustiçada, poderia entrar com uma ação contra elas, para recuperar o que pagara indevidamente (ainda que eu não acreditasse que ela o fizesse);
- no caso de ocorrer novo terremoto no Haiti, com vítimas do Exército Brasileiro, a Bradesco jamais seria magnânima com as possíveis novas viúvas.

Concluí dizendo que, de qualquer modo, se elas achassem que tinham um direito não atendido, deveriam lutar pelo que acreditavam.

Uma vez atingido o objetivo proposto, disse que iria mandar conduzi-las à Gerência de Seguros, informando que não iria pessoalmente, em virtude de ter que atender um outro compromisso.

Desejo afirmar que:
1°) fique muito sensibilizado com o ocorrido, tanto que briguei pelo pagamento às viúvas e conseguimos que fosse paga, pelo menos, a quantia equivalente ao seguro por morte natural, o que não era devido;
2°) atendi, sem qualquer problema, a uma terceira senhora, não prevista no pedido que me foi feito;
3°) não fiz qualquer ameaça de que se elas entrassem com uma ação contra a BRADESCO, a POUPEX entraria com uma ação contra elas, pois a POUPEX nada tem a ver com o Seguro FAM;
4°) foram elas que batizaram o que receberam da BRADESCO como “agrado”; eu apenas afirmei que era um pagamento indevido;
5°) em nenhum momento disse que não tinha tempo para elas pois, se fosse verdade, apenas não as teria recebido;
6°) não falei que “o Gen Enzo até bate continência para mim”, pois sou disciplinado e respeito hierarquia;
7°) não procurei demonstrar qualquer poder, pois nunca fui do tipo “sabe com quem está falando?”;
8°) não desrespeitei nenhuma delas, pois nunca fiz isso; posso ser veemente na defesa de minhas idéias, mas jamais estúpido, grosseiro ou mal-educado; duvido que haja alguém, homem ou mulher, que tenha convivido comigo, nos 46 anos de Exército e 12 anos de FHE, que diga isso de mim.
Finalmente, afirmo que:
- entendo perfeitamente o que as senhoras devem estar passando, com a perda de seus entes queridos, de maneira tão traumática;
- entendo, também que, por estarem sendo protegidas e amparadas, desde a tragédia, por familiares, amigos e colegas dos ex-maridos, tenham estranhado a minha maneira de ser, profissional e objetiva.
- entendo, ainda, que, por estarem ainda fragilizadas pelo acontecido, tenham dado, às circunstancias, uma dimensão muito maior do que a real.

No momento em que, por ter sido demitido, me afasto funcionalmente das Empresas FHE e POUPEX, quero agradecer a todos que, de qualquer forma, me ajudaram em mais esta etapa de minha vida. Ter sido o Vice-Presidente de todos vocês foi uma grande honra e só me trouxe alegrias e grandes amizades.

Aos meus amigos do Exército Brasileiro, declaro que sempre fui, sou e serei a mesma pessoa, totalmente diferente daquela retratada nos e-mail referidos.

Há 13 anos, passei para a reserva levando a farda verde-oliva no coração. Hoje, saio da FHE levando no coração as cores azul e vermelho que a caracterizam, ainda que decepcionado por não me ter sido concedido o sagrado direito de defesa.

Agradeço a Deus por ter me possibilitado fazer parte de três maravilhosas famílias:
- aquela constituída pela esposa, filhos e netos com grande capacidade de amar e com forte união e sinceridade entre seus membros;
- aquela constituída pelo Exército Brasileiro, com grandes amigos, quanto à união entre seus membros;
- aquela constituída pelas FHE e POUPEX, com enorme gama de carinho, quanto à sinceridade entre seus integrantes.

Peço a todos que receberem este e-mail que o repassem aos seus subordinados e amigos, para que todos possam ter conhecimento da verdade dos fatos.

Qualquer dia a gente se encontra!

Abraços a todos,

José Antonio Nogueira Belham


***

O GLOBO – 12/7/2010

General é demitido da Poupex por destratar viúvas

Militar é acusado de não reconhecer promoção de mortos no Haiti

Evandro Éboli

BRASÍLIA. O general da reserva José Antônio Nogueira Belham foi demitido pelo comandante do Exército, general Enzo Peri, da vice-presidência da Fundação Habitacional do Exército, que controla a Associação de Poupança e Empréstimo, a Poupex. Belham foi exonerado depois de ser acusado de ter destratado, durante audiência no mês passado, três viúvas de oficiais mortos no terremoto no Haiti, ocorrido em janeiro. O general teria dito que é tão respeitado que o próprio Enzo é quem bate continência para ele.
Numa carta enviada por email a dezenas de militares, Emilia Martins, viúva do major Adolfo Martins, narra que decidiram procurar Belham para tratar de seus direitos de segurados.
Segundo Emilia, o general não reconhecia a promoção post-mortem dos maridos, o que acontece em mortes nas circunstâncias como as que ocorreram no Haiti. “Diante de tamanha falta de respeito, ficamos caladas, perplexas”, diz em trecho da carta.

As viúvas foram se queixar que deveriam receber apólice como se os maridos tivessem morrido em serviço, e não vítimas de uma catástrofe. Segundo o e-mail, o general afirmou a elas que a seguradora não paga o benefício em caso de acidentes provocados pela natureza. Mas que a empresa pagou e foi magnânima.

Belham divulgou uma carta, que também circulou na internet entre os militares, com sua versão dos fatos, dizendo que foi injustiçado. O general nega, na carta, a versão sobre sua relação com o general Enzo: “Não falei que o general Enzo bate continência para mim”



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