A iminência do apagão têm sacudido o cotidiano dos brasileiros e despertado o país para a farsa modernização propagada nos últimos anos. A falta de investimentos no setor energético mostra o show de improvidência, incompetência e inconstitucionalidade que vem caracterizando a condução do problema pelas autoridades, implicando na estagnação do desenvolvimento do país.
Como não se sentem responsáveis, os governates consideram que não têm que se explicar para a sociedade por que o seu plano político é não ter planejamento, porque não houve investimento, porque as privatizações do setor energético foram tratadas com todas as atenções para o setor privado e sem o menor resquício de espírito público.
O mais grave é que a irresponsabilidade veio acompanhada de uma tentativa de transferir inteiramente o ônus para as costas da população. Em vez de terem investido na construção de hidrelétricas - o país ainda desponta de um potencial hídrico de cerca de 100.000 megawatts a ser explorado -, na construção de novas linhas de transmissão - sobretudo nas regiões Norte e Sul que concentram a maior parcela de produção de energia - e mesmo no investimento de fontes alternativas de energia - a partir do bagaço e da palha de cana - os governates passaram a nos ameaçar com todo tipo de punição - multas, cortes de luz, sobretaxas - , como se ainda estivéssemos na senzala.
Sabemos no entanto, que há tempos - entre 1995 e 1996 - o alerta do risco de ocorrer um racionamento já era evidente. Portanto, o governo entra em total contradição quando alega que a vítima, agora, é a "mãe natureza", ou seja, a falta de chuvas propiciaram a diminuição do volume de água nas hidrelétricas. Junto a isso, temos o acordo com o FMI (Fundo Monetário Interncional) que restringiu os investimentos de estatais brasileiras, como por exemplo Furnas e Eletronorte, que deixaram de investir em novas usinas para gerar energia.
A crise energética é muito mais complexa do que pensamos, ela afetará a política, a economia, a sociedade e a cultura do país. O aumento vertiginoso do desemprego e dos impostos abaterá toda a população brasileira, deixando a cada dia mais evidente as desigualdades sociais.
Uma coisa, porém, é certa: a veleidade de achar que apenas com o racionamento, a crise energética será solucionada é um ato um tanto quanto omisso. Apenas com um plano de investimento concreto, com metas claras e concisas é que solucionaremos este problema. E que fique claro: não há maior desperdício do que não ter força de vontade e determinação. Falta ao governo grandeza de objetivos que espelhem o tamanho de poder agir e iniciar o novo.