BOTANDO OS BINGOS NOS ‘IS’
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Outro assunto que volta à baila: a questão da legalização ou não dos cassinos. Dos jogos de azar. Para quem perde, claro. Pois a sorte sempre estará garantida em relação ao prestador do serviço: o banqueiro do jogo. Ou o empresário, como parece ser o final dessa celeuma.
O governo já manifestou posição favorável à legalização. Está na hora de a sociedade tomar pé das discussões e apresentar suas críticas e sugestões. Para depois não reclamar.
O assunto merece acurada análise. E, pelas implicações que enseja, de ordem econômica, política, social, psicológica, médica, ética e moral, o tema é complexo e bem interessante.
Evidentemente que os bingos são apenas a ponta do iceberg. Por detrás de tudo estão os cassinos; e o que se imagina de seus contextos: luzes, cores, perfumes, sons; jogos; fumaças, bebidas e gargalhadas. Cigarros, piteiras e charutos; erotismo, alegrias, desejos e tristezas; que sugerem prostituição, violência, lavagem de dinheiro, crime organizado, tráfico de drogas, interesses, invejas, vinganças e outros penduricalhos do gênero.
Problemas de toda ordem: psicológica e médica, pela via das personalidades compulsivas, psicopáticas...em torno das quais, ou por conta das quais, surgem ou sugerem desajustes familiares, internações, suicídios, sofrimentos, enfim...
Do ponto de vista econômico, duas faces de uma mesma moeda: o desvio ou o desperdício de dinheiro, pelo lado negativo; e a arrecadação de impostos, que a legalização por certo trará, seguida da possibilidade concreta de ampliar o nível de empregos, pelo lado positivo. Empregos diretos e indiretos. Seguranças, garçonetes, taxistas, turistas, engraxates, e fornecedores em geral: bebidas, cigarros, perfumes, calçados, vestuário...
Legalizar ou não legalizar? Eis a questão.
Num primeiro momento, e traçando um paralelo com a questão do aborto, sou a favor da legalização; naturalmente com os devidos cuidados da fiscalização e acompanhamento constante das atividades que ali serão desenvolvidas. O Estado não pode ficar ausente. E tem que ditar regras claras de segurança para proteção, sobretudo, da dignidade e da vida do cidadão.
Esta minha posição preliminar caminha na direção de uma quase certeza: a decisão de não legalizar é bem pior. Pois, nesse caso, estaremos abrindo mão da chance concreto de controle e da fiscalização daquelas atividades. Hoje, sequer dispomos de informações para atuar, com eficácia, no sistema. Que, de fato, já funciona.
Há notícias, inclusive, de empresários do ramo que já se anteciparam e estão patrocinando nossos atletas para-olímpicos. Numa demonstração de que os recursos arrecadados podem servir à uma boa causa.
Sou, portanto, em princípio, pela legalização acompanhada de instrumentos de controle e de amparo. De preferência, em caráter experimental, para aferir a evolução dos fatos. Até porque, seria hipocrisia pensar o contrário, quando subsiste, há tempos, o precedente das famosas drogas consideradas lícitas, pelo Estado, como o álcool e o fumo; e as próprias drogas ditas ilícitas, que alimentam o tráfico de entorpecentes.
Poderíamos pensar nestes assuntos, de uma forma abrangente e interdependente. E tentar enquadra-los num ambiente o mais controlado possível, partindo do pressuposto de que “dos males, o menor”. E não há mal maior do que a omissão. A decisão de nada fazer. Sabendo que poderíamos interferir, de forma positiva, num procedimento que, como está, na clandestinidade, não abre espaços para agir de forma racional e planejada.
Façam seus jogos, senhores!....
29 de novembro de 2003
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