AS ESTAMPAS EUCALOL
Os primeiros meses de 1950 arrastavam-se preguiçosamente em Recreio, tranquila cidade da Zona da Mata Mineira. O ano prenunciava, contudo, alguma movimentação, diante da aproximação da Copa do Mundo e das eleições presidenciais.
Minha mãe não atinava o meu súbito interesse pelos banhos. Eram dois por dia, pelo menos, sem necessidade de qualquer recomendação nesse sentido, o que realmente era de se estranhar.
E eu, antes menino gato inimigo do chuveiro, ficava um tempão sob a água que escorria por meu corpo, ensaboando-me com sofreguidão.
A mania dos banhos repetia-se na banheira, onde me refestelava na espuma, matéria-prima das bolas de sabão oriundas de meus calculados sopros.
O motivo de meu comportamento, não captado por minha querida progenitora, estava nos coloridos cartões que eu colecionava, extraídos das caixas dos produtos Eucalol. De fato, quanto maior o consumo de sabonetes da marca, mais estampas eu colocava em minha coleção.
Hoje, chegando aos sessenta, lembro-me com saudade daquela época em que eu tão pouco exigia da vida, deslumbrando-me com as três estampas retiradas com grande expectativa de cada caixa de sabonete Eucalol adquirida.
Para guardá-las eu solicitava à Myrta, fabricante dos sabonetes Eucalol, o envio de álbuns, pedido que a empresa atendia com presteza. Em cada página havia ranhuras onde eram introduzidas seis estampas de uma mesma série.
Lembro-me da alegria que tive ao completar a série sobre a vida de Santos Dumont. Eram seis gravuras mostrando balões, inclusive o primeiro dirigível, o "14-Bis", o "Demoiselle", um monumento ao pai da aviação e um retrato do famoso brasileiro.
Recordo-me de ter obtido, também, todas as estampas das séries sobre episódios nacionais, animais pré-históricos, cachoeiras do Brasil, desenvolvimento da navegação, aves do Brasil, fauna brasileira e cobras venenosas de nosso país.
Um dos temas escolhidos dizia respeito aos índios brasileiros. Ao mostrar a figura de um índio Puri ao meu pai, recebi a informação de que éramos descendentes de membros daquela tribo.
Muitas outras estampas encontravam-se em minha coleção: bandeiras do mundo e do Brasil, Força Expedicionária Brasileira, uniformes militares, brasões, jogos olímpicos, peixes das profundezas oceànicas, automóveis antigos, fatos da história universal e do Brasil, habitações e cães de raça.
Chamavam a minha atenção os temas "Curiosidades Mundiais", "Incrível porém Verdadeiro", "Lendas da Antiguidade", "Lendas do Brasil" e "Histórias Infantis".
Creio que as estampas Eucalol muito me ensinaram. Através delas tomei conhecimento de lugares e monumentos que iria visitar anos depois, como o Arco do Triunfo, o Vesúvio, as Catacumbas Romanas, o Coliseu de Roma, a Ponte George Washington, o Edifício Empire State, a Catedral de Notre Dame, o Palácio dos Doges em Veneza, Pompéia, a Baía da Guanabara, a Ponte dos Suspiros, o Corcovado, a Estátua da Liberdade, a Torre de Pisa, o Monte St. Michel, a Torre Eifel, o Rio Amazonas, a Catedral de São Pedro, o Capitólio, a Gruta Azul de Capri, a Igreja da Penha e o Elevador Lacerda.
Infelizmente, as estampas deixaram de ser emitidas em 1957 e distribuídas em 1960. A fabricante, Myrta S.A., desestruturou-se com a mudança de proprietários, entrando, em 1981, em processo falimentar.
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