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Erotico-->Ilusão -- 29/06/2019 - 16:07 (Lorde Kalidus) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Aluísio não via a hora de ir para casa. Havia trabalhado o dia todo na loja de autopeças e estava cansado. Mais um dia ouvindo lamentações de clientes, sendo acelerado por patrões e colegas, e sofrendo na hora do almoço por saber que, tão logo ela terminasse, teria que retornar ao expediente para reiniciar aquele ciclo diário do qual é obrigado a fazer parte todos os dias. Apesar dos bons momentos durante o expediente, de uma ou outra risada trocada com os colegas, ele sente falta da casa antiga que aluga na zona leste da cidade. Longe de ser um lar, pois o local nunca lhe pertencerá, mas ainda assim ele se permite crer que o local é como uma espécie de santuário onde ele pode se entregar a si mesmo por algumas horas. Apenas mais uma ilusão em sua vida, ele sabe disso, mas também não pode negar que talvez os poucos momentos em que nos permitimos acreditar que as coisas estão correndo como queremos é que nos permitem continuar atuando no palco escuro e sombrio que a vida cada vez mais parece revelar ser.

Caminhando pelo metrô, ele observa as mulheres na rua. A grande maioria de seus sentidos, a maior parte de sua atenção, se dedicam a observar as diferenças entre cada corpo que lhe desperta interesse, em toda curva mais ou menos acentuada, em todo quadril mais ou menos largo, seios mais ou menos avantajados, e sua mente o trai de forma tão simples como grotesca, lançando seus hormônios indefesos em direção a um abismo sem fim que, na teoria, seria chamado de desejo.

A rua, após percorrida, o leva ao metrô República. Chegando à entrada ele avista os travestis, cada vez mais numerosos no local, e sente mais uma vez a mente subjuga-lo, quase fazendo com que retorne e converse com uma daquelas pessoas que se dizem mulheres e que, graças à medicina, terminaram por se tornar quase tão perfeitas quanto aquelas que ele, com fervor, admira. Alguns trocados e “elas” o satisfariam, talvez de forma até mais prazerosa e com mais empenho que algumas prostitutas com quem já esteve e que só faltaram falar no telefone ou ler uma revista enquanto eram penetradas por ele. Dentro do trem ele observa as passageiras, seus diferentes corpos e idades, e no fascínio em comum que elas despertam sobre ele. Ironicamente não pensa necessariamente na nudez das mulheres, mas no toque do tecido sobre seus corpos, a forma como se adaptam a eles, o destaque das roupas de baixo nas calças ou em vestidos mais apertados, enfim...

Entretanto, não se aproximava delas. Amava vários tipos de corpos, cada um se destacando por este ou aquele detalhe, tornando-se praticamente um insaciável na busca por possuir todas que pudesse, mas um medo terrível de ser rejeitado por quem mais lhe levasse à loucura fazia com que ele buscasse refúgio em sua imaginação. As tentativas faziam parte, algumas bem sucedidas, mas muitas mulheres o intimidavam com sua beleza, levando-o a desempenhar um papel quase passivo psicologicamente, de forma que ele terminava por se tornar quase um dependente das suas favoritas e, com isso, terminava por resolver a questão dependendo apenas de si mesmo, bem como de sua mente criativa, para obter algum prazer.

Quando chega em casa seus testículos parecem gritar com ele. Como não poderia deixar de atendê-los ele retira suas roupas e caminha até o banheiro, levando consigo apenas seu aparelho celular. Abrindo os arquivos de fotos, ele novamente se depara com ela, respira fundo e passa a acariciar o próprio membro vagarosamente, de forma a permitir que o momento que se inicia possa durar o máximo possível. Ele não tira os olhos da foto da mulher, de cabelo loiro, pele aparentemente macia e quadril e glúteos fartos; não sabe seu nome ou sequer sua nacionalidade, tudo em que foca naquele instante é que sua mente é a prova de códigos de ética, pudor ou dogmas religiosos. Neste território somente seu, ela é o que ele determinar, indo de uma mulher que ele poderia ter conhecido em um bar, ou alguma cliente da loja, talvez até a mulher de seu vizinho ou a posse mais preciosa de seu harém. Tudo o que ele sabe é que naqueles momentos em que ele percorre o caminho entre a excitação e o clímax mais atroz o único propósito dela vai ser satisfazê-lo e a ela própria das formas mais despudoradas e primitivas.

Como se realmente a possuísse e quisesse impressioná-la a ponto de fazer com que ela o procurasse uma vez mais, ele contém o gozo e passa a se tocar de uma forma mais contida que a anterior. Ele acaricia os testículos como se ela o fizesse, imaginando-a de quatro à sua frente buscando jogar o corpo para trás e, com isso, conseguir uma penetração maior. Ele a castiga, atinge suas nádegas com as mãos e a faz dizer palavras sem nexo, entregar-se a ele sem qualquer vergonha, abrindo-se das mais variadas formas até que ele finalmente não se contém e permite que seu prazer jorre de forma que inundaria o ventre dela em circunstancias reais.

Vazio novamente, ele observa a foto da mulher que só em sua imaginação tomou como sua. Como se houvesse expelido um demônio que destruía temporariamente seu raciocínio através daquilo que ele mais precisava, ele volta a ver a posição em que se encontra. E sabe que aquela mulher, se estiver em qualquer condição como aquela em que ele imaginou não será ele que terá algo a ver com isso. Não há cobranças, não há falsos agrados caso ele não tenha um desempenho tão bom quanto ela pudesse esperar dele, ou esperança de que ela um dia pudesse querer estar com ele de novo. Isso tudo de certa forma o conforta, pois, não havendo esperança, não haverá desespero.

Confortado, ele repete o ato mais cinco vezes com cinco fotos diferentes, demorando um pouco a escolher entre as mais de três mil guardadas em seu telefone. No final, acaba voltando à primeira, sua favorita, e também a que ele levou mais tempo para encontrar em meio às outras postadas nas redes sociais. Satisfeito, finalmente se levanta e caminha até o chuveiro, confiante de que não há espaço agora a ser ocupado pelas mulheres que possuiu em sua imaginação ou por qualquer outra. A água é quente e a sensação é de conforto, isso é tudo em que ele irá pensar nos próximos minutos até a hora de pegar o celular novamente.

 

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