Excelentíssimo Senhor Governador do Estado do Amazonas.
PROFESSOR GILBERTO MESTRINHO.
Excelência.
Antes, peço permissão a Vossa Excelência para deixar de lado o formalismo que por força do cargo devo usar. Para quem sempre, desde adolesceste aprendeu a te chamar de “tio Gilberto”, hoje se tornaria difícil usar o tratamento formal. Permita-me, por favor.
Tio Gilberto. Lembro-me nos idos de 1958 iniciavam-se o mês de dezembro e eu concluía o curso de datilografia pela escola “Underwood” e não podia fazer parte da turma de formandos por que a tia que me criara não possuía condições para tal. Eu já fizera demais, concluí o curso em apenas quatro meses e entre 40 candidatos, fui a única aprovada.
Recorri á sua esposa, quandpo ainda moravas no bairro de Aparecida. Atendida por ela, mandou-me retornar no dia seguinte e cedo eu estava lá á espera da resposta. Recebendo de tuas mãos uma quantia suficiente para concretizar o meu primeiro sonho. Ficara linda com aquele traje branco e igual a todas as outras minhas colegas.
Graças a ti. Nunca esqueci este fato. Ainda naquela ocasião me perguntastes: “_O que queres ser?” Respondi com convicção.
PROMOTORA DE JUSTIÇA, e quero ser nomeada pelo senhor como Governador do Estado. Pois nos meus cálculos ao conluir Direito e tentar ser Promotor daria exatamente o tempo em que retornarias a ser novamente governador. Cursava a 2ª série ginasial no IEA.
Querido Tio. O tempo nos prepara ciladas e ciladas e ele se encarrega de contorná-las, de solidificá-las. Veja: Casei-me no ano de 1960 quando iniciava teu Governo e fiquei 9 anos sem estudar.
Fui de 1964 a 1968 até agricultora, km. 82 da Am-010. O discurso de inauguração da estrada Manaus-Itacoatiara em 05.09.1964, lido nas emissoras de rádio de Manaus pelo radialista e saudoso senador Dr. João Bosco Ramos de Lima, fora por mim escrito.
Em 1967, comecei a lecionar naquela localidade como professora distrital contratada e ali ficara até 06.10.1968 quando resolvi vir pra a cidade e ser doutora. Naquela data eu dizia às margens do Rio Preto. _Vou à cidade ser doutora e aqui só retornarei quando realmente for.
Já o fiz. Dia 31.03.1982 quando da instalação do Município, estava lá junto a eles, formada em Direito como prometera um dia. Discursei, recordações fiéis na alma.
A 1º de abril de 1982, assumia por concurso público o cargo de secretária da Egrégia Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Amazonas
Onde me encontro até a presente data.
Faltava a concretização do que chamo profecia.
Ser finalmente PROMOTORA DE JUSTIÇA. Sonho que alimentava desde os 6 anos de idade, quando fazia teatro com os meus colegas e era a promotora de justiça sempre. Com aquela tenra idade já subia aos palanques para cantar o hino do PTB que aprendera a amar com os meus e lia discursos escritos, até ler os meus, representando o bairro de santa Luzia (Educados)
Em novembro de 1982 me submetia ao concurso para o cargo de promotor de justiça de 1ª Entrância. Aprovada não assumiu por força de conveniência do cargo de secretário que tinha vencimento equiparado ao de Promotor e estava na Capital. Com respaldo legal solicitei outra oportunidade para fazê-lo e ela surge agora.
PROFECIA? Creio finalmente que sim. Pois se tivesse assumido em março de 1983, seria nomeada pelo então Governador, saudoso Mestre Professor Paulo Pinto Nery. Não. A Profecia se concretiza e serei nomeada por Vossa Excelência, meu querido tio Gilberto. Breve, breve, serei PROMOTRA DE JUSTIÇA. Onde? Não sei? Fica a cargo do destino e da minha boa estrela que apesar de às vezes apagar-se, sempre volta a brilhar, por força da minha força interior.
OBRIGADA TIO GILBERTO.
Pelos livros da antiga livraria Escolar, das fardas, do prazer de ser igual ás outras naquela turma de datilografia e de ter vencido. Apesar de tudo.
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Nota da autora- Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, já com Deus, mas antes fui nomeada em 05.02.1985, comarca de São Gabriel da cachoeira onde passei 3 dias, entrei em pânico e desisti do maior sonho da minha vida. Hoje continuo de certeza sendo a Promotora de Justiça, não me calo diante das imbecilidades de certos governantes, de políticos fingidores, de homens que não se respeitam e muitos menos a nós mulheres, que matam, destroem, mutilam vidas, quantas sobrevivem como eu, mas todas quebradas. Entreguei esta carta ao amigo Luiz Costa, Secretário Particular de Gilberto por muitos anos e esposo da amiga e colega do IPASE, Terezinha Costa, que nunca me negou um prato de sopa que tomava correndo quando saia da faculdade e corria ao Conservatório, cantava para pagar a faculdade. ETA Vida. Obrigada meus amigos. Ana Zélia (Manaus, 10.04.2010- Choro é muito forte.
