----------- Verso vão com rima vã
----------- Tenho eu cada manhã
----------- Logo que ouço: bom dia!
----------- O mesmo tenho à tarde,
----------- E à noite quando não arde
----------- O sonho que me alumia.
----------- Não sei se queria ou não queria
----------- O poder que desafia
----------- A mais lídima ilusão,
----------- Só sei que vou recusar
----------- Aqui ou noutro lugar
----------- As coisas sem coração.
----------- Discorri versos em vão
----------- Por rimas de ambição
----------- E com métrica escorreita
----------- Em estrofes calculadas
----------- Que depois foram cantadas
----------- Pela saudade desfeita.
----------- De forma menos perfeita
----------- E d improviso mal feita
----------- Sem maturado processo
----------- Fiz um dia uma canção
----------- Que alcançou sensação
----------- E foi um grande sucesso.
----------- Quantas vezes do avesso
----------- Assisti triste ao regresso
----------- Dos versos que escrevi
----------- Com o sentido trocado
----------- E verso a verso estragado,
----------- Diferente do que senti.
----------- Se ainda não escrevi
----------- O passado que vivi
----------- Ajuda-me a esquecê-lo,
----------- Oh Musa peço-Te a arder
----------- Mil "enes" de não viver.
----------- Outra vez um pesadelo.
----------- Só não suporto farelo,
----------- Seja verde e amarelo
----------- Ou seja verde e vermelho;
----------- Gosto da lusitanidade
----------- Vertendo em sumo a verdade
----------- Vinda do fundo do espelho.
----------- Criança, novo e velho
----------- Sem a espora do conselho
----------- São para mim a certeza
----------- Que concebo a valer
----------- E pra quem peço a arder
----------- Mil "enes" de natureza!
---- Por Ti
---- E para Ti
---- Tenho mil "enes" para dar.
------------------ Torre da Guia -----------------