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cronicas-->Fila harmónica do Brasil -- 04/07/2001 - 22:00 (Felipe Cerquize) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mesmo com os nossos gestores participando o tempo todo das cirandas de lesa-pátria, que somos obrigados a engolir, sempre nos restarão alguns neurónios capazes de pensar em amenidades administrativas que poderiam vir a facilitar a vida do cidadão comum. Uma dessas amenidades é o saudoso programa de desburocratização a que o país se submeteu em décadas passadas. O negócio era dar fim à papelada e às filas. Ditaduras à parte, a verdade é que, apesar de termos feito tudo o que fizemos (perdão, Belchior), a burocracia nunca deixou de ser uma signatária do sofrimento do cidadão brasileiro. Pior é ver alguns ícones da vitória contra esse cancro social irem por água abaixo por mera recaída. Por exemplo, o reconhecimento de firma era um ato burocrático que estava caminhando a passos largos para a extinção. Subitamente, começou a entrar num crescendo, que não sei onde vai parar. Agora, até para vender o carro temos de ir ao DETRAN com uma cópia do documento de venda, obviamente com firma reconhecida. Se não colocarmos um freio, a mentalidade "burrocrata" poderá acabar fazendo com que tenhamos de reconhecer a firma na cópia de um papel higiênico usado, para provar ao chefe que fomos ao banheiro por pura necessidade. Afinal, onde foi parar a crença do homem no seu semelhante? O homem honesto não tem palavra, mas o ladrão sim. Se um ladrão chega a um banco e diz "isto é um assalto", todo mundo acredita e ele leva o dinheiro sem precisar preencher papéis, bastando apenas apresentar o seu aval em punho.

E as filas? Às vezes, até acho que existe uma rapaziada que gosta de ficar nelas para jogar conversa fora e passar o dia. E olha que nem o avanço tecnológico está conseguindo dar cabo desse martírio. É fila em caixa eletrónico e até fila virtual, dependendo de como se queira acessar a Internet. Para mim, a pior de todas é a do tipo espiral, muito comum quando a pessoa deseja cadastrar-se à vaga de um emprego anunciado em jornal de massa ou quando é dia de pagamento dos aposentados do INSS (desrespeito incabível para quem deixou as marcas de sua contribuição na sociedade em que vive). As filas espirais não são do tipo que acabam quando terminam, pode crer (Ops! Perdão, Chacrinha, onde quer que você esteja).

Não é fácil viver num país tão desorganizado como o nosso. Estatísticos, em recente pesquisa, descobriram que os homens de 70 anos passaram, em média, 5 anos, 330 dias, 2 horas e 23 minutos enfrentando filas no decorrer de suas vidas. E, como já comentado, apesar de se aposentarem mal e parcamente, nunca conseguirão se ver livres da tão famigerada linha humana. Brincadeiras à parte, pode ser que este seja um número exagerado, mas não significa que, qualitativamente, a realidade esteja muito longe disto. Você já pensou nos que pernoitaram num posto de saúde para poder tratar de suas doenças? Já pensou nas mães que dormiram no portão da escola para conseguir vagas no ensino público para os seus filhos?

É, meus amigos, parece que a tendência é que, nas nossas vidas, carimbos, cafés e chás de cadeira abundem e perdurem, obrigando-nos a fazer parte da sinfonia inacabada dessa fila harmónica do Brasil. O consolo é que existem coisas piores do que isto, como os crimes de lesa-pátria quase que institucionalizados e a multiplicação dos assaltos nos semáforos e nos transportes coletivos urbanos. Consolo vindo das ações de larápios vocês sabem como é, não? Encontra-se à venda nas boas casas do ramo...
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