É claro que a gente entende
É claro que a gente vê
Quando a pessoa é educada
E às vezes não sabe o que lê
Mas precisa pegar o trem
Aquele que mais lhe convém
Ele pergunta a você
Não vai ficar na parada
Ou mesmo na estação
Com vergonha de perguntar
Qual a sua condução
Afinal quem muito sabe
A obrigação que lhe cabe
É a de ensinar seu irmão
Não pode fazer juízo
Não seria o correto
Coçar-se com a alergia
E ter pena do analfabeto
É pura discriminação
Não faz sentido ou razão
Sejamos um pouco honesto
Até porque é possível
E a suposição é correta
Você pode estar ajudando
A um fabuloso poeta
Que não tem a sua cultura
No sentido da escritura
Mas que você o deleta
Só em ouvir os seus versos
Você chega a conclusão
Que nada aprendeu nessa vida
Essa é a grande questão
Na escrita você não esquece
Você se gaba e conhece
De qualquer pontuação
Mas na hora do dizer
Não adianta só pontuar
Tristeza, saudade e desgosto
Querer, gostar e amar
São coisas que não precisam
Por si só já sinalizam
Aonde querem chegar
Embora não negue o valor
E o saber da ortografia
Da sintaxe e da concordância
Do texto sem algaravia
No sentido de confuso
De rosca e de parafuso
Existe a mais-valia
De quem oferece o que sente
Escrito do que jeito que deu
Não teve culpa se a escola
Quem alguém lhe prometeu
Até hoje ficou na promessa
De político, que conversa
Mas que nada aprendeu
Do mesmo jeito acontece
Com tudo que é preconceito
Quem sofre um acidente
Também merece respeito
O fato de ser não-vidente
Não dá o direito a gente
Da falar mal do sujeito
Até porque quem é cego
Nessa história mal contada
É quem olha e não enxerga
Ou quando vê, não vê nada
Pensa que já sabe tudo
É cego e ainda é mudo
Sem ajudar na parada
Por isso amigo lhe digo
Com toda sinceridade
A crase que tanto o ilude
Representa, na verdade
O modo de agir e pensar
De quem mal sabe pontuar
Com um pouco de verdade
Troque a crase por amizade
Mude de pontuação
Viaje em sonhos repletos
De muita compreensão
Pegue o trem da saudade
E nele faça amizade
Sinalize o seu coração
E viaje com o poeta
E curta toda a emoção
E quando voltar, se voltar dela
Dela que digo, a inspiração
Coloque logo na frase
O sinal da volta , a crase
Pontuando aquela união
Mas quando você voltar
E se vier de Paris
Lugar de muita cultura
Lembre-se da regra que diz
Se ao voltar, volto “dê”
Usar a crase prá quê?
E seja bastante feliz