Usina de Letras
Usina de Letras
65 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62239 )

Cartas ( 21334)

Contos (13264)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10368)

Erótico (13570)

Frases (50637)

Humor (20031)

Infantil (5436)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140810)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6194)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Conjuntura infeliz -- 02/07/2001 - 19:51 (Felipe Cerquize) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pego-me, às vezes, reclamando da situação a que alguns setores da vida cultural brasileira chegou. Houve uma regressão ao longo das últimas décadas? É uma situação generalizada ou restrita a algumas áreas mais suscetíveis ao livre mercado? Quando olhamos o cinema, por exemplo, vemos uma evolução fantástica durante as décadas de cinquenta e sessenta, uma certa acomodação nas duas décadas seguintes, um retrocesso no início dos anos noventa e a volta do seu brilho na segunda metade dessa mesma década, consequência da capacidade dos nossos cineastas e do retorno do financiamento governamental ao setor. O bom cinema nacional vem florescendo nesses últimos anos e disso temos de nos orgulhar. Mas e a música? O que realmente houve com ela? Estão rareando os bons compositores nacionais? O que está nas paradas é bom e eu é que tenho deficiências auditiva e de compreensão? Mudou a capacidade musical do público brasileiro? Acho que não é nada disso. No meu modo de ver, o que acontece nesse setor é uma sucessão de fatos que pegou no contrapé a população, os compositores e os críticos. Um desses fatos é o mercado predador que estamos vivendo, onde o que importa é o quanto se arrecada, independente de como se arrecada. Qualidade? Bom, dá-se uma atenção especial ao controle de qualidade do material com que se confeccionam um tocador de CD e seus apetrechos, mas o conteúdo, propriamente dito, o que interessa? Cada pessoa que se vire na sua formação cultural! Um segundo fato é a mudança do cenário político nacional e internacional. Houve um tempo em que se livrar da tirania opressora unia as pessoas em torno das artes, principalmente da música, e dava excelentes frutos culturais. Agora, o que nos resta são os marginais, que cada vez mais dominam as táticas de guerrilha urbana aprendidas pelos seus antecessores na época de convivência com os presos políticos. Talvez exista mais uma porção de outros fatos mencionáveis, mas um que não pode deixar de ser citado é o pouco caso com a educação do cidadão brasileiro. É possível que do início da segunda metade do século XX para cá tenha aumentado o número de vagas na Escola Pública e diminuído o índice de analfabetismo no Brasil, mas a qualidade do ensino caiu assustadoramente. Está cada vez mais afunilado o caminho entre o ensino fundamental e a faculdade para os pobres deste país. Apesar de as universidades públicas ainda possuírem um excelente nível, só chega lá quem tem uma boa formação básica, o que não é o caso dos filhos de famílias carentes, que frequentam as escolas públicas até o segundo grau (quando chegam lá) e são obrigados a dar de bandeja o ensino superior gratuito aos abastados que tiveram uma base sólida de formação.

Quando estava relendo esta crónica até o final do parágrafo anterior, peguei-me confortavelmente de braços cruzados e perguntei a mim mesmo: quem é o culpado por essa deterioração de qualidade de vida que estamos vivendo? Quem é o culpado por nossos ouvidos terem virado penico e nossos cérebros esterco? Quem é o culpado por nossas visões seletivas e por nosso desejo de consumo desenfreado? Aí, num raciocínio inevitavelmente rápido, me respondi: a culpa é das pessoas que podem fazer alguma coisa, mas que compactuam com todos esses contrastes. A culpa é de quem sabe que a droga que consome é que permite ao traficante comprar uma AR-15, mas que, mesmo assim, continua consumindo-a. A culpa é dos intelectuais e dos intelectualóides, que não abrem mão de embarreirar um trabalho artístico dedicado e permitem que a população absorva aquilo que eles mesmos se recusam a julgar. A culpa é daqueles que primam pela formação distorcida e não pela educação de fato. A culpa é das pessoas que têm consciência disso tudo, mas que acabam tornando-se coniventes, devido à displicência com a realidade que presenciam. Lamentavelmente, leitor, os culpados somos nós, fiadores dessa conjuntura infeliz.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui