Aconteceu-me
Ontem vi o rosto da dor.
Ontem vi a cara do horror.
Que medonha se fazia, tudo
à sua volta tremia.
Ontem, sem querer, foi-me
acontecer o pior encontro
que alguém pode ter.
O inferno de ser chegou e o
seu falar me dizia que a fera,
que rugia, acabara de se soltar
do inferno em que vivia.
A luz que seu olhar refletia era
a sombra da luz que o homem
da caverna trazia.
Tinha a cor do medo, da morte,
da assombração, do agir sem dó
piedade ou perdão.
Ali eu sabia que gritos aflitos,
pedidos de compaixão: nada
removeria daquele ser medonho
a fúria que sentia.
Só algum ser celestial teria força
tal para acalmar tanto mal.
Foi o que percebi quando vi que
o homem da caverna parou de rugir.
Subiu em sua bicicleta e saiu a fugir.
Não me fez mal algum, sequer me
tocou, nada me roubou.
Foi-se como um cão danado, enfurecido
porque percebeu que a mão de Deus
estava ali comigo.
Lita Moniz
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