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Cartas-->Carta ao escritor Adrião Neto -- 18/01/2010 - 21:39 (Leon Frejda Szklarowsky) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Brasília, 18 de janeiro de 2010

Meu caro Adrião Neto

Quando se tem à mão uma obra que, de imediato, atinge os sentimentos, a alma e o intelecto, o prazer da leitura atinge os píncaros.



Novamente, fui contemplado com um belo presente, desta vez com Raízes do Piauí, uma obra poética, uma história romanceada, dedicada ao seu Piauí que você tanto ama. Lembre-se, porém, de que este Piauí é também meu querido Piauí, fincado no nordeste, terra de bravos e heróicos cavaleiros, de lindas e selvagens praias de um mar bravio e quente, hospedando um povo fidalgo, de falar cantante e olhar longínquo, em busca de seus irmãos de tantos brasis deste Brasil gigante e hospitaleiro.
Nos idos de 2001, convidado pelo presidente do Centro Acadêmico da UFPI, José Cleto, hoje ilustre advogado, fui paraninfo da Turma Justiça em sua plenitude. Do discurso que proferi, nasceu a Crônica, Piauí, Terra dos Meus Sonhos, e, em seguida, a poesia Meu querido Piauí.
Sei que o homem do nordeste sai em busca de sonhos. Procura outras terras. Não olvida sua infância. Não permite que a cidade grande apague de sua memória os folguedos da meninice e o aconchego de seu lar, envolto no mistério que só ele sabe desvendar.

Tantas vezes, visitei o Piauí,
Terra boa e linda do Nordeste,
Rica de talentos, rica de poesia.
Fico feliz, oh Deus, pelo que me deste:
Poder, como ninguém, ver, de perto, o Rio Poty,
E, de longe, quase não vejo o velho Parnaíba.
Oh, terra quente, terra de gente valente,
Quem me dera viver aqui, para sempre,
Junto desta brava e fidalga gente!

Afinal, nem as pirâmides do Egito, dos Astecas ou a Esfinge se igualam às 7 Cidades, que, se não foram construídas pelo homem, como teimosa e orgulhosamente, fazem transparecer, foram modeladas pela natureza, com esmero e perfeição sublime, e representam um sítio de inigualável e inesquecível beleza. Ou a Serra da Capivara, patrimônio mundial, único parque nacional das caatingas, hospeda achados arqueológicos, comprovando a presença do homem, há mais de cinqüenta mil anos. Nem as dunas, alvas e belas, escapam do olhar do viajante, embriagado com tanta magnificência.
Tenho a impressão de que o Piauí me adotou como filho ou eu o adotei como rincão do meu coração.
Pois bem, lendo sua obra, concordo plenamente com Assis Brasil, que cita seu “pararromance” como um manancial da riqueza e diversidade piauiense, dando colorido trágico às ocorrências históricas, ao genocídio dos índios, aos saques praticados pelos colonizadores. Não olvida os costumes da época colonial e as figuras históricas que povoaram esta terra de gigantes, como destaca, com maestria, seu ilustre prefaciador Antonio de Paula.
Efetivamente, pode-se não gostar da história, mas não é possível ignorá-la, porque a história retrata os momentos importantes, desastrosos ou heróicos, da existência do homem. É a medida exata do que acontece e deve ser transcrito e rememorado para sempre.
Não lhe agradeci, antes, a remessa de seu notável livro, Raízes do Piauí, porque estou a passar por uma fase nada alvissareira. Os médicos constataram, há dois meses, que um hóspede, não desejado por mim, o câncer, sorrateiramente, invadiu meu estômago e pretendia instalar-se definitivamente em meu esqueleto recheado de músculos e outros órgãos vitais, sem contar minha alma que tanto prezo, e transformá-lo num covil de bandidos agressores, covardes e impiedosos. Na verdade, não lhe solicitei a presença nem lhe fiz qualquer convite.
Como vê o amigo, recebi de presente um choque, com certeza, de um milhão de watts ou mais, que me causou inusitado susto (ponha susto nisto!), que abala fortes e fracos, na mesma intensidade. Não convidei este intruso inimigo. Marotamente, invadiu meu domínio privado. Acomodou-se em meu pobre corpo. Não obstante, não lhe darei trégua.
Tal qual da primeira vez, nos idos de julho de 2004, ao tomar conhecimento do câncer na próstata, dominei este inimigo sanguinário, que me fez produzir a crônica “A provação ou o sofrimento”. Espero escrever, com muita dor e sacrifício, outra crônica, A provação II. Não é fácil, creia!
Não é que o ser humano carrega dentro de si a energia vital e divina, mas poucos a utilizam ou sabem utilizá-la devidamente. Espero poder, também desta vez, superar e suplantar este monstro pavoroso e maldito e vencer esta batalha ignóbil. Pelo que sei, da penca de exames feitos e dos procedimentos já realizados, para meu conforto, o câncer no estômago é periférico e inicial. Portanto, curável, por meio da mucosectomia (laparoscopia). É um bom começo, uma boa notícia, para quem foi cumprimentado pelo deus do mal, em pleno ano-novo.
Mas, prosseguindo a viagem através de seu romance, observo que você conseguiu, sem dúvida, pintar com tintas fortes a sociedade de então, com um realismo vibrante e, com seu talento, transportar o leitor para um mundo que parecia esquecido.
Eis o poder de um artista, de um escritor, de um poeta, de um contador de histórias, de um artífice da palavra, de um artesão ou de um ourives da imaginação e da inteligência, enfim de um arquiteto de diálogos, de fatos, e, porque não, de novos caminhos e mundos, navegando pelas galáxias da imaginação e do universo por você construído.
Assim é Adrião. Assim é Raízes do Piauí.
E Adrião não tem ilusões. Escreve com a tenacidade de quem quer rememorar o sagrado e a realidade crua, sem devaneios. Escreve um romance lúcido, suave e doce como sua alma, porque nela está sempre presente o poeta, o deus da palavra. Nada se perde. Dois mundos distantes, um do outro. O hoje e o ontem. No entanto, tão próximos graças aos relatos e ao caminho percorrido.
Você soube dar vida. Não se perdeu. Não ficou sem rumo, porque seu talento conseguiu criar dois mundos distintos e, paradoxalmente, tão íntimos. A poesia e a prosa confundem-se com a vibração das idéias, com o banquete em que se confraternizam e brincam alegremente, com as palavras que não são mais palavras, com as idéias que não são mais idéias, pois os folguedos tomaram conta do feliz ledor, que deles se assenhoreou e tomou por conquista, de direito.
Pois, pois, descobrir um escritor é como viajar no tempo e no espaço, desgarrar-se do dia a dia e caminhar pelo infinito, sem qualquer compromisso.
Afinal, o escritor, o poeta e o compositor têm um pouco de cada ser humano e, da síntese, ele produz sua obra. E, quando o escritor ou o poeta escreve, seu espírito começa a divagar, desgarra-se do corpo e inicia a caminhada fascinante. Envolto de desafios, ingressa no mundo fantástico do sonho, do devaneio. E, você bem sabe, escrever é uma arte e uma necessidade. Faz parte do dia a dia do escritor e do poeta.
Por isso, a responsabilidade do escritor é muito grande e, quando ele consegue transmitir a mensagem, é sinal de que atingiu o objetivo. E, certamente, você o fez. Creia, todas suas obras constituem um verdadeiro repositório indispensável na biblioteca a ornar o cenário literário nacional.
Realmente, o escritor desempenha papel importante, pois com sua pena (ou, já agora, com seu computador ou “notebook”) marca os melhores e até os piores instantes vividos pelo ser humano, na Terra.
Parabéns, meu querido amigo, poeta e escritor. O seu trabalho não foi em vão.


Receba o meu tríplice e fraternal abraço e obrigado pela lembrança e citação.

Leon Frejda Szklarowsky




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