O escritor e jornalista brasileiro, Nélson Rodrigues escreveu, como todos sabem, peças teatrais que na sua época causaram enorme polêmica e foi muitas vezes alvo de acirradas críticas e reprimendas por parte das senhoras e senhores mais moralistas e conservadores. Aliás, ele foi vítima não só dos conservadores, foi incompreendido tanto pela direita quanto pela esquerda e às vezes até mesmo pelos amigos que achavam que ele estava indo longe demais. Foi chamado de « tarado » e ele mesmo se auto nominou de « anjo pornográfico » que é o nome da sua biografia, escrita por Ruy Castro.
Nélson escreveu a respeito do seu teatro “Morbidez? Sensacionalismo? Não.E explico: a ficção, para ser purificadora, precisa ser atroz. O personagem é vil para que não o sejamos.(……)Para salvar a platéia, é preciso encher o palco de assassinos, de adúlteros, de insanos e, em suma, de uma rajada de monstros. São os nossos monstros, dos quais eventualmente nos libertamos, para depois recriá-los.”
Além das famosas peças Vestido de noiva, Amulher sem pecado, Perdoa-me por me traíres, Bonitinha mas ordinária, para citar só alguns dos títulos mais conhecidos dentre as dezessete peças, algumas das quais transformadas também em filme como Meu destino é pecar, Toda nudez será castigada, A dama do lotação, etc, Nélson Rodrigues escreveu ainda romances, contos e crônicas e fez televisão.
Hoje ninguém contesta o seu talento ou hesita em reconhecê-lo como o “gênio do teatro brasileiro”.
Entretanto, o clima de copa do mundo, faz emergir o outro lado de Nélson, aquele que era apaixonado pelo esporte brasileiro por excelência e que sobre esse esporte escreveu À sombra das chuteiras imortais, crônicas que são uma declaração de amor ao futebol brasileiro.
Não só Nélson mas toda a família Rodrigues era apaixonada pelo futebol e seu irmão, Mário Filho fez do futebol a sua profissão. Não, não era jogador, era jornalista esportivo e foi o responsável por uma verdadeira revolução no modo de escrever sobre o futebol no Brasil. Ele iniciou sua carreira em O Globo, onde era responsável pela página de esportes e depois criou o seu próprio jornal Mundo Esportivo e desde então o esporte foi o seu mundo. Escreveu toda a história do futebol brasileiro “Histórias do flamengo” 1946, “O negro no futebol brasileiro”, 1947 e outros.
Voltemos ao Nélson. Ele foi o primeiro a chamar Pelé de Rei numa crônica escrita em 1958 « A realeza de Pelé » quando este jogador tinha apenas dezessete anos. Escreveu Nélson Rodrigues a seu respeito « Ponham-no em qualquer rancho e a sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor. O que nós chamamos de realeza é, acima de tudo, um estado de alma ». E ainda, na mesma crônica sobre a segurança de Pelé, escreve « E acaba intimidando a própria bola, que vem aos seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha ». Em outra crônica, “O Eichmann do apito”, sobre o jogo entre Brasil e Chile na copa de 62, em que o Brasil venceu de 4x2, Nélson Rodrigues escreve entusiamado « Feliz do povo que pode esfregar um Garrincha na cara do mundo ! »
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