ESTÓRIAS DE UM PRESIDENTE
DIÓGENES DANTAS FILHO (*)
Este é o título do livro do saudoso e brilhante Coronel HERNANI D’AGUIAR que abdicou de sua promoção a General para dar assistência permanente ao Presidente COSTA e SILVA, como Chefe de seu Gabinete Pessoal, desde a grave enfermidade até à morte.
O militar tinha sido anteriormente, de 1967 a 1969, o primeiro Assessor Chefe de Relações Públicas da Presidência da República, desfrutando da intimidade do Marechal.
Àquela época, a lealdade era considerada um apanágio dentre as virtudes castrenses e D’AGUIAR foi exemplar na sua observância. Ficou ao lado de seu Chefe e Amigo, inválido em cima de uma cama e alheio a tudo em vida semivegetativa, enquanto grave crise ocorria pela posse do poder.
O autor procura retratar o lado humano do Presidente apesar de sua aparente sisudez.
Católico fervoroso, COSTA e SILVA repetia com frequência que não desejava o seu Cargo nem para o pior inimigo. Parece até que estava adivinhando o calvário de COLLOR e os tsunamis enfrentados por LULA, DILMA e TEMER.
Desejava ser como o Marechal DUTRA ao deixar o Governo: “ter a casa cheia de amigos, cuidar dos netos e envelhecer tranquilamente pelas ruas do RIO...”. Que brutal diferença para os governantes recentes!
Ele era muito emotivo, chegava às lágrimas com facilidade e reconhecia não possuir o “aplomb” de um Presidente por não ser imponente, alto, forte, magro e bonito. Apesar dos constantes regimes alimentares, a vaidade não lhe batia às portas. Quantos de seus sucessores se aproximam dele neste particular?
No seu leito de dor, imobilizado e mal conseguindo comunicar-se com os que o rodeavam, preocupava-se com o destino de seus amigos leais. Assim também foi com o bravo Jornalista CARLOS CHAGAS, seu Secretário de Imprensa. Ao saber que voltaria para “O GLOBO” os dois começaram a chorar de mãos dadas. Realmente emocionante! O que diriam do atual ambiente de traições, delações premiadas, denúncias e deslealdades?
O Ministério das Comunicações acabava de ser criado e a chefia da EMBRATEL estava vaga. Levaram-lhe o nome de seu filho ÁLCIO da COSTA e SILVA por ser engenheiro formado no ramo pela Escola Técnica do Exército e satisfazer plenamente as condições exigidas para o cargo. Ele discordou por ser um mau exemplo.Bons tempos em que o nepotismo era repudiado até na Praça dos Três Poderes.
Em 1969, recebeu um grupo de juízes e desembargadores que pleiteavam isenção de imposto de renda. Após escutá-los, mostrou-lhes o seu contracheque de vencimentos com o desconto mensal do referido imposto e solicitou-lhes que também o fizessem. O constrangimento foi grande pela diferença salarial e o Presidente lhes disse: “orgulho-me de pagar imposto de renda- é uma das formas de redistribuir a riqueza”. Já imaginaram como seria este diálogo atualmente onde é abismal a diferença salarial entre os integrantes dos Poderes Judiciário e Legislativo, de um lado, e os do Executivo, de outro, apesar de a isonomia estar prevista na Constituição?
COSTA e SILVA nunca escondeu que era apaixonado pelo turfe e gostava de moderadamente apostar em cavalos de sua preferência. Sabedores disto, lobistas tentaram lhe oferecer, de presente, o puro-sangue TIGER de 2 anos, de excelente linhagem e de elevado valor.
Com a sua simplicidade e inspirando-se em fato semelhante ocorrido com o Consolidador da República, respondeu: “aceitarei com muito prazer mas no dia seguinte ao da passagem do governo para meu sucessor”. Qualquer comparação com o que se sabe, se lê sistematicamente nos noticiosos e se ouve nas TV, fica por conta do leitor.
Ele tinha grande coragem pessoal e não se atemorizou com a covardia do Atentado de Guararapes, em Recife, que o tinha como alvo. Jamais admitiu excessos praticados em nome de sua segurança. Sempre citava o exemplo de KENNEDY que foi mortalmente baleado apesar de contar com uma das melhores proteções do mundo. Várias vezes saltou de seu carro para confraternizar com o povo mesmo em redutos da Oposição.
Durante seu mandato, somente se ausentou do país por 3 dias para comparecer à reunião dos Chefes de Estado em PUNTA DEL LESTE/URUGUAI. Bons tempos de economia nos gastos públicos sem desperdícios em mordomias.
Na manhã de 29 de agosto, com o rosto repuxado e coberto por um cachecol, falando palavras enroladas e mal articuladas, preparou-se para deixar o Alvorada e fez questão de sair como chegou: andando. Ao ultrapassar a portaria, olhou para o Palácio e começou a chorar antevendo a final despedida. Com ele viajavam 2 grandes amigos, o médico da Presidência e seu ajudante de ordens, testemunhando a grande dificuldade do Presidente guardar o lenço que enxugara suas lágrimas porque o braço não lhe obedecia. No meio militar as amizades são sinceras e independem de hierarquia.
No dia 17 de dezembro de 1969, pouco antes das 16 horas, o Marechal COSTA e SILVA já afastado da Presidência teve um infarto fulminante e repousou.
Ele ficou marcado pela implantação do AI-5 que o associou à figura de um ditador que sempre repugnou. Poucos sabem que ele lutou para impor uma Nova Constituição antes do epílogo de seu mandato mas Deus assim não o quis.
O livro é uma Bíblia de ensinamentos para os governantes de diferentes níveis e revela a personalidade de um homem bom, desconhecido pela grande maioria da população. Merece ser lido e relido!
(*) DIÓGENES DANTAS FILHO - Coronel Forças Especiais/Consultor de Segurança.
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