BREVÍSSIMA HISTÓRIA DO AMOR CONFLITUADO DE UMA MULHER QUE ACREDITA SER AMADA E DE UM HOMEM BÊBADO, ASQUEROSAMENTE AFUNDADO NA PIEDADE.
Há uma lágrima para cada dia
E um suor de espinhos que não consegue
Afugentar o esquecimento
Há uma lágrima que vai do infinito
As costas desta praia
Um tremor de adeuses nos esbofeteia
As entranhas
Porém o tempo
Majestoso
É incapaz de gritar basta
( RÉQUIEM PARA UM ESQUECIMENTO/
RUBINSTEIN MOREIRA )
Manchas enormes de umidade nas paredes. Uma chuva fina e descompassada molhava o asfalto das ruas hostis.
Bebeu um longo gole de cerveja, amarga e quente. Um sabor de folha de cinamomo verde invadiu sua língua.
Carolina caminhava de um lado a outro. Estava nervosa. E velha. Viu-a desenhar-se na pouca luz da tarde e assustou-se. Todos os anos tinham lhe caído encima. Velha. Irremediavelmente velha.
Outro gole de cerveja deixou-lhe um gosto de repolho podre, um gosto que se prolongava perto da garganta.
Carolina olhou-o como se fossem estranhos. Fermentava entre eles um sentimento nocivo e doloroso. Uma falta total de qualquer coisa que não podiam e não queriam explicar.
Tão velha que lhe dava pena. Cambaleou até ela. As lágrimas nublaram-lhe a realidade. Abraçou-a, bêbado e com dor, cheio de piedade no sangue. E ela entregou-se, total, inteira, acreditando mais uma vez no amor.