Não me fale de amor, de madrugadas úmidas.
Sei de tudo que atravessa a alma
e assola o corpo com gritos do infinito.
Não me fale de murmúrios, eu os escuto
porque lembro, em pele e ouvidos,
Uma paixão que me roubou os dias.
Agora, não quero amar além dessa lembrança.
É que tenho essas marcas palpáveis,
risonhas, são marcas que cultivo.
Ainda são minhas.
Hora dessas, se esvairão,
mas como saber o tempo que isso leva?
Hoje não dá, estão aqui, visíveis,
em carne viva e algum perfume.
Ai, como eu queria dar-te a boca
ao beijo fatal do esquecimento.
Hoje não posso,
Não é de mim fingir o que não sinto.
Mesmo teus lábios sendo um convite terno,
Mesmo tua voz, mansa, ao ouvido,
Mesmo teus braços fortes e alma linda,
Não te posso dar o que não tenho.
Esse meu corpo já não me pertence,
É de alguém que anda tão distante,
Mas sua lembrança é doce e quente
e é tão viva, tão forte, tão presente,
Que me toma por vezes, horas a fio,
Como estivesse ao meu lado novamente.
Anda, aquieta-te, que se não te beijo,
Não tenho culpa, não é por mim,
É apenas e somente
porque dona não sou desse meu corpo.
Não sendo dona, como usá-lo,
Como dele fazer uso para amar-te,
Como se fora meu, o corpo, novamente?
Talvez não devas esperar-me.
Nada de triste em mim, por esses dias.
Tua espera exarceba-me, entretanto.
Faz-te de amigo e me farei contente,
Com os meus versos, meus sonhos
e as lembranças.
22/12/2001
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