O Rei sonhou que estava andando. Não andando como ele andava quando era dono do seu Reino. Suas pernas pareciam pernas de gafanhotos.
Antigamente, quando ele andava, conquistava povoados e mais povoados só por conquistar. Hoje ele está deitado em sua cama real. Sem as pernas. Sem seus braços. Apenas tronco, cabeça e um cérebro onírico.
Perdeu suas pernas num combate esportivo. Os ferimentos levaram à gagrena. Seu súditos choraram, não pelas pernas ou pelo Rei, mas pelo trabalho dobrado que teriam de executar.
Num curto espaço de tempo suas mão começaram a inchar. Foram chamados todos os médicos disponíveis. Quando não haviam mais remédios apelaram por magos e feiticeiros. Após meses de sofrimento, encantações, cânticos e mantrans o Rei teve seus braços amputados. A doença que tinha se iniciado nos dedos acabou consumindo as mãos e os braços.
Seu súditos choraram em dobro.
Agora o Rei está semi-estático em sua cama Real. Não consegue mais falar. Dizem que os calos nas cordas vocais são pequenos tumores malígnos.
Com suas pernas de gafanhoto o Rei andava pelos povoados cumprimentando os camponeses. Antigamente ele não fazia isto. Achava que era perigoso respirar o mesmo ar da plebe. Hipocondríaco Real.
O Rei andou com suas pernas de gafanhoto até um lago no meio da floresta. Sentou-se à beira do lago e descansou. Estava feliz por poder andar, apesar das pernas. Estava até arrependido por ter sido tão duro com seu povo.
No meio do lago apareceu, de repente, uma luz e desta luz um ser e este ser como se fosse um duplo feminino do próprio Rei mostrou-lhe algo.
Era uma criança acéfala. Perfeita mas acéfala.
O Rei, assustado com o que viu saltou até desaparecer.
Seus súditos choraram. Choraram de alegria. O povoado comemorou. Comemorou a liberdade.
O Rei também estava livre do seu invólucro.