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cronicas-->Meninos não deviam crescer -- 23/06/2001 - 13:54 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fala a verdade. Crescer tem o seu lado bom. Tomar uísque, por exemplo. Não ter que dar satisfações pra mãe ou pra avó ou pra mulher alguma - pelo menos até se casar. Mas aqueles dias da infància são difíceis de se deixar pra trás. Basta comprar um brinquedo para o filho: automaticamente a gente se transporta para dez, vinte, trinta anos atrás. Ah se eu tivesse um autorama desses!... Vira e mexe nos deparamos com uma cena que nos faz lembrar das antigas brincadeiras de rua, das traquinagens, das professoras do primário, dos desenhos animados que - graças à sensibilidade de alguns programadores - são repetidos hoje na televisão. Assar batata doce e pinhão nas cinzas da fogueira fincada no terreno baldio. Estátua, mãe da mula, taco, patinete de madeira, fazer carreto na feira livre, atirar pedras nas janelas das casas abandonadas, esconde-esconde, futebol de rua (é claro!), soltar pipa e balão. Bons tempos, bons tempos...

. . .

Mas o que sinto falta mesmo da infància são dos sentimentos. Talvez o principal deles fosse a esperança. Vou crescer e ser isso ou fazer aquilo. E mais: quero ficar bem rico e ajudar os pobres. Agasalhos no frio, brinquedos para as crianças. Comida o ano todo. Vou casar e ter um monte de filhos, e vou brincar com eles, passear de bicicleta, levar ao estádio, acompanhá-lo aos bailes, tomar coca-cola na beira da estrada. E mais: não vou fumar porque estraga a saúde, vou estudar para o resto da vida - seguindo o conselho da minha professora Marilene - vou ter uma infinidade de amigos, e a gente vai se encontrar todo fim de semana. Nossos filhos brincarão juntos e viajaremos nas férias. Todos os meus amigos. E os amigos do meu irmão também!

Outra coisa que tenho saudades é da solidariedade. Quando era menino, não podia ver ninguém sofrer. Eu era quem sofria quando minha mãe me levava até o Centro e via, desde aquela época, os pedintes maltrapilhos espalhados pelas calçadas das avenidas centrais. Puxava o vestido da dona Eunice e pedia uma moeda. "Pra que quer uma moeda, menino?!" Eu olhava do alto do meu pouco mais de metro e respondia que era para dar para aquela velhinha ali. Quase sempre minha mãe ignorava. E então eu ficava bicudo, não entendendo por que ela se recusava a ajudar os mendigos. Hoje eu te entendo, mamãe...

. . .

Hoje não me sinto uma pessoa má. Mas estou muito longe de ser o ser benevolente da infància. Contribuo com menos do que realmente posso para algumas obras assistenciais. Porém, sinto que não é tanto uma atitude espontànea. Parece mais um peso na consciência. "Olha, a seus filhos não falta nada..." - diz uma voz dentro de mim. Aí eu recolho uns agasalhos, separo uns brinquedos, dou uns trocados. Também não me encontro com meus amigos de infància com a frequência que imaginava no passado. Já perdi o vínculo com alguns deles por causa dos desentendimentos das nossas crianças. E, obviamente, quando nossos filhos que saíram no tapa se encontram, fazem aquela festa. E, por falar em filhos, fico devendo a eles minha presença. Ponho a culpa no trabalho. No trànsito. No governo. Na globalização. E chego em casa e corro para a televisão. Ou para o micro. "Não me amola, menino! Estou cansado." Acho que não devia ter crescido. Complexo de Peter Pan? Pode ser...
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