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Poesias-->O Cordel no Pescoço -- 20/12/2001 - 15:25 (Gumersindo Guajará) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CORDEL NO PESCOÇO







I - O comêço do círculo





Acordei delatado. As mãos, lívidas,

nos espinhos da barba me descubro:

homem na rua, nu, em pleno inverno.

Escrito num muro: “Foram tuas dívidas”

Fuzilaram-me. Eu, que sou de outubro,

e que jamais tive sorte nem terno.



Mas, dívidas não falam. Só as rosas

que (sei lá) mandei a quem não devia.

A morte é de graça - a vida é que é cara.

Do saculejo das tripas queixosas,

Arranco ainda um grito: - Parem o dia !!!



Eu não acredito : o dia para !!!











II - Anita, é hora...





Dou forte berro (que sai em falsete)

e forro o chão com meu colchão de palha.

Por que é que quando tua bôca desata

a beijar, é como se de um trompete

jorrasse a roufenha voz de uma gralha,

de porcas e arruelas numa lata ?

Faz-me rir, eu te juro. Não consigo

ficar curto nem sério, quando vejo

teus lábios encardidos de desejo!...

Abre a tua bôca e ouve o que eu digo:

o que só dela sai é beijo esquálido,

beijo com gôsto de velho jornal !

por que não brota um beijo matinal,

beijo bom, de macho em carne e osso ?...

Qual! ao invés, sai-me esse beijo pálido,

com o gosto da tua boca : insosso !











III - O que não se leva





1.



Levo na cabeça o pote dos sonhos,

na trilha que me leva ao escritório.

Levo junto mêdos, os mais medonhos .;

embora o mêdo seja transitório,

e que, junto aos sonhos, desapareça

no quanto mais claro se faz o dia,

esses sonhos que trago na cabeça

(e nem os mêdos) jamais os diria.





2.



Meu rosto, hoje liso e barbeado,

cheirando a loção de amiga secreta,

(que ninguém imagine o descampado

por onde pastam as minhas idéias)

vaga e divaga sòzinho, sem meta,

ginga sem rumo, por trens e boléias,

hippie chinfrim, achado no deserto,

e que a dona da loção, persistente,

vem tanger para o prado mais incerto

e o empurra pro lado da vertente...







3.



Sou homem urbano, não tenho cavalo :

as rédeas na mão, são as do destino.

Esse eu empino, esporo e me abalo,

mudo a cor do dia e desatino

e parto! livre sou e vou sumir !

perder-me numa praia da Bahia...

Vou prá Punta del Leste! prá Agadir !

Hoje não trabalho - eu quero o dia

para misturar todos oceanos

dentro de mim. Fazer o que não fiz

e viver o que me resta dos anos

com ela, numa ilha, ser feliz...





4.



Gritam-me: - Telefone! tua mulher.

É Anita. Vem dizer (sem emoção)

que ou ela compra ou eu - como quiser !

porque o frasco daquela loção

caiu, se quebrou. Ah! sei. Entendi...

Brincou: - Foi-se a loção e os segrêdos.

- Como??? que loção? que praia? eu vi ?

ela viu? nos meus sonhos? os meus mêdos ???











IV - O peixe ou a vida





Cá estou eu, no ápice da façanha,

morrendo de mêdo de olhar prá baixo,

colando-me à parede feito aranha,

minha vida ao léu, bem aqui no alto :

eu, bacharel lavador de ventanas.





Tudo o que li (em livros emprestados)

dança na rua assim, feito baianas

subindo ao céu. Os braços gordos dados,

a cada volta se vê, sob as saias,

o que ainda resta do meu salário.

Lá no alto, sumindo feito arraias,

em dinheiro-papel mais ordinário.





Precisa é ser velha e vir de pau,

para cá impor-me o que eu não sei.

Valha-me as calças ou valha-me a lei,

aquela que me permita ser mau

- que seja, ao menos, um dia por ano.

Nos demais, não dá prá sair do trilho :

deitar com Anita e esquecer o insano

que habita no olhar de fome do filho,

pois nesse mar de leite derramado,

peixe que salta, cai é na bacia.









E a velha, a dançar com o seu cajado,

que é longo de noite e duro de dia,

assim que desce, dói como fatura,

a que gente perde, esquece e não paga,

e que quando aparece, é feito praga

que dói e dá no osso até que fura !





Quero mais que o peixe salte na vida

e que chore a bacia : arrependida.











V - Sexta-feira, com certeza!





1.



Nesse bar, explodir até que posso,

se o que bebi e comi já foi pago.

Não em palavra, mas sim em papel,

que certo, vale mais. Eu só indago

se nesse boteco haverá colosso

que se chame Joaquim ou Manoel,

para, com fôrça de proprietário,

curvar a minha maldita querença

de explodir de paletó e gravata,

talão de cheques (só que sem salário),

orelha musical e desavença

acumulada - porém, se desata,

vai encher de poesia o pardieiro.



2.



Porque meu verso é vivo, não é mãe .;

nem é tolice daquele que busca

rimar mulher com perú ou champanhe.

Meu verso sai do pio brasileiro,

sai da fila, da bronca e do fusca .;

da família (que vai mal, obrigado)

nesse emaranhado louco de fios

e de contas que se tem a pagar,

um monte de aluguel engarrafado,

onde eu pago muito - e ganho pouco!







3.



Os meus dias tem fome, são vazios.

Mas, por que é que nisso eu fui falar?...

já bebi, já paguei, por que não calo?

(é a cabeça que, frouxa, varia)

E como de pensar eu fico rouco,

só quis deixar dois dedos de poesia,

desses que descem mal no gargalo,

feito a sanha vil do patrão à-toa

ao funcionário que não o enaltece.

essa droga que tão pouco conheço,

mas que me faz bem e não me abate.

Mentirosa, finge que a vida é boa,

- doces ilusões - será que eu mereço ? -

então diz que é a sina que merece

aquele que a vida só mal rebate,

e que lhe deu mulher (chamada Anita)

um desemprêgo, fusca e dois filhos,

existência que (fácil) descarrilha,

(se é que já esteve, um dia, nos trilhos) .;

e todo fim de mês é a mesma grita,

que me faz sentir uma inútil pilha

que jamais vi dar luz nenhuma. Nunca!



4.



Iluminado sou é pela luz

que vem do alto de um teto encardido,

mostrar-me, do fundo desta espelunca,

a meus amigos de copo e de cruz

(que me esticam um ôlho constrangido)

pois só lhes mostro as mãos e essa vontade

de explodir - de gravata e paletó -

de projetar-me assim, em quantidade,

arrebentar de vez com esse nó,

explodir-me nas paredes, no teto,

por dentro das gavetas, pelo piso,

no bôlso dos amigos, sob as mesas,

explodir total, inteiro, completo!

Pedaço de mim colado no sorriso

da môça no cartaz que vê o otário .;

de mim no pasmo das luzes acesas

dos carros nas ruas, pelas fachadas .;

de mim e eu em todas direções !!!





5.



Fazer em pedaços o solitário,

que sem ter mesmo em casa avisado,

teria lembranças pulverizadas

(voando aos cacos, velhas emoções

que mofam nos dias do meu passado)

daqueles todos poucos que me deram

o pouco mais do que lhes foi pedido.

Quem sabe então, nesses aí ficassem

as lembranças daquilo que fizeram,

e desse pouco que houvesse sobrado,

o pouco disso assim repartido,

se fizessem vozes e a mim gritassem

seus desconsôlos em um ódio tal,

que a própria vida quedaria muda,

o ponteiro de um relógio engasgado

com o cuco berrando a hora final.

E se o cuco grita, aí eu estanco.

Quedo-me, calado. Surdo. Distante.







6.



" Lá nos longes meus, as vozes que escuto,

pontos de luz e dor em fundo branco,

são todos meus eus que voltam a mim,

refazem minha máquina pensante.

Pedaços meus, de alegrias e luto... "





7.



Volto ao bar eu me dou conta (enfim)

do avançado da hora. - Um café!

peço, pago e tomo. Senão esqueço.

Sem deixar resto, só me resta ir,

assim, meio implodido - que fazer?

vou tomar o rumo que bem conheço.

Só que : como hoje é sexta, vou a pé.



Mas, semana que vem (sem prometer)

com certeza, Anita : eu vou explodir!























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