Assistia eu televisão, momento clássico de auto reflexão, quando entra no ar a chamada para uma peça de teatro. E em horário nobre. E no canal de maior audiência. Sou de uma cultura conservadora, grosseria mesmo, do tempo em que teatro era coisa de veado. Ou de boiola. Por via das dúvidas, sempre fui pé atrás com o tal teatro. Já não me cabe na memória a última vez que estive num. Não conta aquele que fui protagonista, no pré. Fiz um papel secundário e, mesmo esquecendo as falas, que na verdade eram poucas, fui ovacionado. Ao menos foi o que meus genitores contaram. Por via das dúvidas, esqueci.
Foi então que anunciava a tal peça (de teatro, de teatro). Os atores que a encenariam, o local, o preço do ingresso, a possibilidade de tele-entrega do bilhete. Via de regra, alguém tem que bancar isso tudo, ou ao menos, promover. Imagino algumas estatais e empresas de telefone por trás. O locutor confirma. E vai além: "Apoio, Escola de Atores".
Antes de entrar nesse mérito, adianto: não conheço tal escola, não sei sob que preceito se articula e nem quem leciona. Mas reconheço que, como toda escola que se preze, conta com bons e maus alunos. Alunos que vencem e tornam-se bons profissionais, outros nem tanto.
Vejo multiplicar-se pelas escolas, faculdades e afins, todo tipo de curso que forma todo tipo de profissional, literalmente. Com um mínimo de estrutura e um aval do MEC, várias instituições andam promovendo toda sorte de curso técnico. Como o tempo de duração é menor que um curso superior, diminui também o investimento em qualificação, infra-estrutura e um quadro docente decente (a cacofonia foi por querer, e daí, vai encarar?).
Então que esses centros, alternativa a quem não tem saco ou grana para encarar uma universidade, estão cada vez mais difundidos, e como sugere o próprio nome, são basicamente técnicos. E como a técnica é construída de modo cartesiano, sem muito "pensar", essas instituições funcionam como uma linha de montagem, carimbam na testa do sujeito "este é técnico". Claro que muitas faculdades, atentas à mais essa forma de dinheiro fácil, estão cada vez mais adotando esse método brilhante de ensino.
E claro que, assim como em qualquer atividade, sempre haverá os técnicos e os que além de técnicos, pensam. Mas está cada vez mais difícil distinguir. Culpa da Escola de Atores, que deve estar com lotação completa. Tem muito profissional que não sabe dirigir seu ofício. E, pior, finge que sabe a técnica, interpreta, coisas de anos de escola de ator. O que fazem fora do teatro?
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