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Cartas-->PRECONCEITO, CONTRA QUEM? -- 01/08/2005 - 21:23 (GERALDO EUSTÁQUIO RIBEIRO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PRECONCEITO, CONTRA QUEM?

Eu tive que tomar emprestado o Escravos do Nosso Tempo para mostrar que o preconceito que insistimos dizer não existe está enraizado em todas as camadas da sociedade brasileira, mas não é contra os negros, é contra pobre.
Seria até mais justo dizer que não é um preconceito racial e sim um preconceito de miséria.
Todos os pobres e miseráveis sofrem na carne e na alma o abandono das elites.
O abandono dos vizinhos e amigos que só aparecem na hora da desgraça maior, esquecendo que o dia a dia de quem é marginalizado é mais agonizante que um câncer.
O mais doloroso é existir o preconceito de pobre contra pobre, daquele que gosta de puxar saco de rico e do patrão para pisar no irmão.
Eu preciso falar dos cem anos da abolição, mas, por mais que procure não consigo entender o que foi abolido.
Será que querem que eu fale sobre a libertação dos negros?
Eu poderia conversar com algum preto velho que viveu ou ouviu seus pais e avós falarem sobre a degradação a qual foram submetidos nas garras dos senhores de engenho. Poderia abrir um livro que me mostraria em detalhes os sofrimentos destes nossos irmãos nas garras dos que se julgavam donos da terra e senhores da vida.
Seria muito fácil!
Eu nunca acreditei que somente os “pretos” foram escravos, sei que pessoas foram escravizadas simplesmente porque eram pobres e viviam na miséria, se fossem brancas, mestiças, amarelas teriam vindo do mesmo jeito.
Não foram escravizadas pela cor, mais pela condição sub-humana que os seus governantes lhes impunham e que até hoje não mudou muita coisa.
Como foram os pretos os escravos do nosso começo, até hoje alguns idiotas cultuam preconceitos contra esta raça que muito nos ensinou e que escreveu com o próprio sangue o seu nome nas páginas da nossa história..
Hoje eu conversei com um preto assalariado e pai de muitos filhos, ele mora em um barraco de favela e continua muito mais escravo do que os negros amarrados no pelourinho.
A diferença é que do lado dele moram muitos brancos, também escravos do sistema.
Não abri nenhum livro, abri o jornal e li em detalhes o que todos os escravos estão sofrendo nas garras de um governo “capitão do mato” e de uma sociedade comprometida apenas com o lucro e o poder.
É por isto que cada vez mais me convenço que, salvo algumas exceções, no nosso país não existe preconceito de raça.
O nosso maior e vergonhoso preconceito é contra o pobre.
Cem anos de abolição!
A senzala era um galpão grande e sujo com portas trancadas e constantemente vigiadas, o barraco da favela é pequeno e sujo, suas portas não trancam porque não é possível fugir da miséria, e mesmo assim, ainda é constantemente vigiada e assaltada pelos marginais ou pela polícia.
Nas senzalas a comida era ruim e raramente faltava, hoje, as panelas estão vazias e as pessoas passando fome, o alimento é farto e o salário mínimo não permite que as pessoas se alimentem, o que se perde e o que se joga fora é uma afronta a Deus e a todos nós que assistimos calados como se fosse natural.
Nos raros momentos de folga, os negros cantavam a saudade dos parentes e da sua terra, agora não existe motivo para cantar, as pessoas não foram arrancadas de seus lares, a maioria se tornou escravo na sua própria casa e dos seus próprios irmãos.
Os escravos morriam porque a medicina era atrasada e privilégio dos dominadores.
Tudo igual.
Os pobres morrem sem assistência porque o progresso fez a medicina evoluir apenas para os que podem pagar. Os escravos precisam dormir nas filas mendigando uma consulta e esperar meses para fazer um exame ou simplesmente se consultar com um “especialista”.
Antes da abolição as crianças eram livres no ventre, hoje, milhares delas são abortadas e outras tantas perambulam livremente pelas ruas porque não possuem sequer uma senzala.
Seria tão barato construir uma.
Duas...
Três...
O negro velho era livre depois dos sessenta anos, agora velhos de todas as raças e de todos os credos estão abandonados nas ruas ou jogados em asilos, condenados a serem para sempre os escravos da solidão.
Quantos conseguirão trabalhar até os sessenta e cinco anos para se aposentar com o miserável salário mínimo?
No quilombo dos Palmares o líder Zumbi deu a própria vida para acolher e defender seus irmãos e agora os escravos do sistema andam sem rumo como verdadeiros zumbis.
Os nossos líderes, na sua maioria, defendem apenas os seus interesses para não perderam os altos salários e lutam somente para manterem o poder sobre os escravos que os sustentam.
Cem anos da Lei Áurea.
Que tinha tudo para brilhar.
Cem anos que a palavra escravo deixou de ser privilégio dos negros e passou a pertencer a todos que são marginalizados e explorados por empresários e políticos ladrões acobertados por uma sociedade elitista e perversa.
Realmente o negro tem motivo para comemorarem esta data, a partir da abolição se igualaram a todas as raças, os ricos continuaram livres, os pobres continuaram escravos como a maioria dos miseráveis de qualquer lugar do mundo.
É claro que esta data é motivo de comemoração, mas deveria ser, além de tudo, motivo para uma reflexão mais profunda sobre da degradação da vida na terra para buscarmos novos rumos para os ESCRAVOS DO NOSSO TEMPO.
Hoje é segunda feira dia 01-08-2005 e os escravos continuam sofrendo na maldita fila dos INSS que está em greve a mais de trinta dias e o “capitão do mato” nada faz para resolver o problema.
Que morram na fila.
São apenas pobres.
São apenas escravos.

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