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Poesias-->Insônia -- 15/04/2000 - 18:42 (Bruno Ribeiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não durmo. Não posso dormir em meio a tantos

pensamentos. Fora deste quarto branco, a noite se

desprende dos grilhões escuros de silêncio.

Longe bem longe escuto um cachorro, o apito de um

navio. Não durmo. Abro a janela para o mar. As ondas

se sucedem. Todos dormem, menos eu. Dentro do meu

quarto branco, dentro, sempre dentro.E não durmo tendo

tantos pensamentos.



Acendo um cigarro, olhando o mar. Rochedos, rochedos

salgados me trazem reminiscências. Coisas que ficaram

por dizer, gestos e intenções que morreram antes do

parto. Que morreram antes do parto no imaculado ventre

das coisas cotidianas - e das excepcionais.



Não durmo, sinto-me incomum. O que deixei de fazer.

Que dor indizível a voz das coisas nunca acontecidas!

Lá fora é a noite, o mar, o apito de um navio distante.

Rochedos, rochedos salgados, pensamentos revoltos...



Pessoas que passaram, pessoas que passaram, pessoas.

Que mistério existe no relógio, que engrenagem

movimenta a morte ? O óbvio desta noite em que não

durmo, o óbvio. Rostos perdidos no tempo, palavras

amortecidas, amigos mortos. Ah, rochedos!



Não durmo e não posso dormir neste mar de pensamentos.



Olho o crucifixo negro na parede branca e não me diz

nada. Ondas brancas rebentam nos rochedos negros.

Nada. Nada. Reluto em jogar xadrez. E acendo outro cigarro.



O que será daquela viúva que conheci no trem ? Por quê

não fugi com ela ? O que será daquele homem que me

pediu um par de sapatos e foi morar em Minas ? O que

teria sido daquela carta que escrevi e enterrei na

praia ? Tivesse eu a enviado, estaria agora dormindo ?



Pensamentos, pensamentos. Não posso dormir.

E não durmo.



A noite se dissemina como uma doença e a tudo consome.

Todos dormem, menos eu. Menos eu, que procuro passar o

tempo,a procura de um OVNI no espaço ou de uma janela

acesa.



Não durmo em meio a tantos pensamentos.

Fora deste quarto branco, minha memória sobrevoa o

bairro, como a sombra de um noctívago morto.

Sinto-me doente antes do amanhecer. Mas acendo meu

último cigarro e gargalho para o mar. Os rochedos,

loucos, rebatem o apito de um navio.



Bruno Ribeiro,

22 de Fevereiro de 2000
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